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Exame de Situação Tática do Exército Francês - MEDOT

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Exame de Situação Tática do Exército Francês - MEDOT

 

Figura 1: Representação esquemática do MEDOT
Fonte: Manual Tático do GTIA – QIA1, Exército Francês
 

O exame de situação tática é uma fase importantíssima no processo de condução das manobras militares. O Exército Francês (EF) utiliza um método bem particular para realizar esse exame, o MEDOT - Méthode d’élaboration d’une décision opérationnelle tactique (método de elaboração de uma decisão operacional tática). Esse método possui algumas semelhanças com o exame de situação utilizado pelo Exército Brasileiro (EB) ensinado na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) porém, com algumas características singulares.

O MEDOT inicia com uma fase preliminar ao estudo que tem por objetivo a ambientação às características macros da situação tática. São observados alguns aspectos como: o tipo de operação a ser realizado, as missões táticas impostas na Ordem de Operação do escalão superior, os horários impostos, o terreno onde será realizada a manobra, o valor e volume esperado do inimigo e o modo que o escalão considerado se enquadra na manobra do escalão superior. Essas informações são recebidas durante o Mission Briefing do escalão superior. Cabe ressaltar que nesta fase nenhum aspecto é analisado, somente observado e anotado em uma caderneta de planejamento.

A primeira fase do MEDOT tem por finalidade obter o Effet Majeur (EMA) - Efeito Maior, da manobra do escalão considerado. Essa é uma das principais características do planejamento militar do EF. O EMA é, por definição, um resultado esperado sobre o inimigo ou sobre alguma parte do terreno que, quando executado em um momento específico, vai possibilitar o cumprimento da missão recebida pelo escalão superior. Para ilustrar essa definição pode-se utilizar o esquema da teoria da esfera vencendo uma elevação, conforme   figura 2.

 

Figura 2: Esfera vencendo uma elevação
Fonte: Sd Machado - CI Bld
 

Existe um ponto onde a esfera não necessita de força externa para chegar ao final do trajeto. Esse ponto é o EMA no contexto da manobra militar do EF. A compreensão dessa definição é muito importante em todos os escalões do EF pois as manobras em todos os níveis são expressadas através do EMA.

Outro ponto fundamental é a compreensão do faseamento das manobras no EF. Toda manobra é dividida em T0 – fase de preparação; T1 – fase inicial da manobra; T2 – fase onde o EMA do escalão considerado é realizado; e T3 – fase de conclusão da missão recebida pelo escalão superior.

Na primeira fase do MEDOT, o estudo é iniciado pelo “POR QUÊ?” onde é analisado o espírito da missão com ênfase no entendimento do papel da subunidade (SU), por exemplo, na manobra do batalhão (Btl). Ainda, entender o Effet Majeur do Btl e quais são as frações vizinhas, com suas respectivas missões. Em seguida “O QUÊ?”, onde a missão recebida é decomposta em tarefas impostas e deduzidas, qual efeito final que a manobra tem que atingir e quais as ações que a missão recebida obriga a executar.

No item “CONTEXTO?”, a situação política dos beligerantes envolvidos, as regras de engajamento específicas, as questões sociais, entre outros aspectos que envolvem o contexto da operação são observados para mensurar em que medida restringem ou auxiliam a manobra.

Em seguida o “QUANDO?” responde aos prazos impostos e como serão divididos os três tempos - T1, T2 e T3, da manobra. Cabe ressaltar que o escalão considerado, normalmente, realiza seu planejamento em cima do T1 do escalão superior.

A análise do terreno, “ONDE?” é feita com auxílio do elemento de engenharia em apoio ao Subgroupement Tactique Interarmes – SGTIA (FT nível SU), geralmente um tenente comandante de pelotão de Engenharia que reforça o SGTIA.

Com esses estudos, algumas conclusões parciais permitem ao comandante (Cmt) de SU verificar qual ritmo deverá empregar na sua manobra frente às dimensões da sua zona de ação, com uma prioridade na seleção dos “momentos e lugares chaves”. Com isso, o EMA começa a se apresentar de forma mais clara.

A análise prossegue com o “COM QUEM?” e “CONTRA QUEM?” onde são observadas as possibilidades e limitações das peças de manobra que estão reforçando a SU. Além disso, o inimigo é estudado de forma quantitativa e qualitativa, isso permite ao Cmt SU concluir sobre o poder relativo de combate, o centro de gravidade amigo e inimigo e quais demandas poderão ser feitas aos integrantes do Estado-Maior do Btl no momento do Backbrief com o comando do Btl.

No final da primeira fase, após análise de todos os itens acima expostos, o Cmt SU chega a conclusão sobre o EMA que permitirá o cumprimento da missão recebida.

A segunda fase inicia com o “COMO?”, onde serão levantados dois modos de ação, duas manobras diferentes que lhe permitem realizar o EMA. Em seguida, também são levantadas duas possíveis formas de manobra do inimigo – mais provável e mais perigosa, segundo sua doutrina de emprego. Cabe ressaltar que o EF possui um Manual Didático (L’ EMP 20.611 - Inimigo Genérico para Treinamento e Instrução das Forças Terrestres) utilizado nos exercícios táticos, como na EsAO. Porém, no EF esse manual é único e empregado por todas as escolas e unidades de corpo de tropa. O manual é muito completo e possui como base os materiais de origem russa e adversários que a França enfrenta na atualidade.

 

Figura 3: Planejamento da Ordem de Operações
Fonte: www.defense.gouv.fr/terre
 

Em seguida e finalizando esta fase, é realizada a confrontação entre os modos de ação amigo e inimigo de acordo com alguns critérios estabelecidos de comparação. Assim, a manobra é escolhida de modo a cumprir o EMA estabelecido e conseguir fazer frente às duas possíveis manobras inimigas.

Com o fim da segunda fase, o Cmt Cia redige a Ordem de Operações no nível subunidade que tem uma estruturação similar ao modelo adotado pelo EB no nível unidade e superiores. A diferença existente visa atender algumas particularidades do EF, em especial o EMA e os três tempos que faseiam a manobra.

Desta forma, o MEDOT é um método simples e rápido adotado pelo Exército Francês para realizar o estudo de uma situação tática. Possui etapas e processos esquemáticos bem singulares que buscam atender a uma forma de raciocínio característico e original dos franceses. Com o conhecimento deste e de outros métodos empregados por exércitos modernos e que estão atualmente em conflito, podemos aperfeiçoar e contribuir com a evolução do exame de situação tático utilizado pelo EB, aumentando sua operacionalidade.

 

AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!

Rafael Soares Cristofari - Cap Inf
Instrutor do CI Bld
Carlos Alexandre Geovanini dos Santos – Ten Cel
Comandante do CI Bld
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