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Sistema de Munições Remotamente Pilotadas

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Sistema de Munições Remotamente Pilotadas

 

Figura 1: Switchblade 600, da Aerovironment.
Fonte: www.avinc.com
 

Atualmente, tem-se observado um grande incremento na utilização de veículos aéreos não tripulados (do inglês Unmanned Aerial Vehicle – UAV) na guerra moderna. As aplicações desses veículos aéreos não tripulados são múltiplas no meio militar, destacando-se as missões de Inteligência, Reconhecimento, Vigilância e Aquisição de Alvos (IRVA), designação de alvos, ataque e guerra eletrônica. Essa gama de aplicações permite agregar vantagens nos níveis tático, operacional e estratégico.

No Exército Brasileiro (EB), os UAV recebem a designação de Sistema de Aeronaves Remotamente Pilotadas (SARP), constituído de três elementos essenciais: o módulo de voo (a própria aeronave), o módulo de controle em solo e o módulo de comando e controle.

A obtenção dos SARP para a Força Terrestre integra o portfólio de projetos do Programa Estratégico do Exército - Obtenção da Capacidade Operacional Plena (Prg EE OCOP), com previsão de aumento das demandas para a utilização desse Material de Emprego Militar (MEM) pelo Exército, conforme previsto no Cenário de Defesa 2020-2039.

Nesse contexto, o EB publicará a Diretriz de Implantação do Subprograma Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (SPrg SARP) ainda em 2022. Essa documentação considera, dentro do escopo dos vetores aéreos não pilotados, a obtenção, a médio prazo, das chamadas loitering munition, ou munições vagantes.

Essa tecnologia disruptiva recebeu, no EB, a designação de Munições Remotamente Pilotadas (MRP), que, à semelhança dos SARP, configura-se como Sistema de Munições Remotamente Pilotadas (SMRP). As MRP possuem a capacidade de permanecer em voo por alguns minutos ou horas (dependendo do modelo) até atingir seu objetivo assim que a ameaça for localizada e identificada, impactando-o e detonando sua ogiva explosiva.

Uma característica definidora das MRP é a capacidade de “vagar” no ar (do inglês loitering) antes de selecionar o alvo, permitindo ao operador do sistema a flexibilidade para decidir quando e o que atacar. Essa característica das MRP as separa dos mísseis e foguetes mais tradicionais, pois conseguem operar como pequenas aeronaves em atividades de vigilância e reconhecimento antes de impactar seu objetivo como um míssil ar-terra comum.

A literatura internacional especializada tem classificado as MRP em uma categoria própria, especialmente por ser uma mescla de míssil e aeronave. Como míssil, são projetadas para serem, em sua grande maioria, de uso único; uma vez lançadas, deverão encontrar um alvo para atacar ou uma área passiva para serem descartadas. Como aeronave, podem ser guiadas por um operador no solo ou então comandadas por inteligência artificial com permissão e autonomia para engajar os alvos.

O operador da MRP tem a capacidade de observar, em tempo real, o alvo e sua área circundante, através de câmeras ópticas, infravermelhas ou termais. Esses equipamentos permitem controlar o tempo exato, altitude e direção do ataque a um objetivo estático ou em movimento. Ainda, possibilitam uma melhor decisão no processo formal de identificação e confirmação de alvos terrestres.

Tecnologia avançada e econômica

Com custo relativamente baixo, quando comparado aos mísseis, as MRP podem ser empregadas para atingir carros de combate, postos de comando e controle, radares e tropas, entre outros objetivos no campo de batalha. Além disso, essas munições inteligentes podem incluir recursos além da linha de visada, datalink avançado, inteligência artificial e alto nível de manobrabilidade, permitindo que esses sistemas cumpram missões decisivas, onde são necessários alta precisão, sigilo e rapidez. A furtividade possibilitada pelo tamanho reduzido e pelo uso de motores elétricos silenciosos evidenciam características singulares das MRP.

Letalidade adicional às pequenas frações

Circulando silenciosamente centenas de metros acima do campo de batalha, as MRP permitem que as forças da linha de frente localizem alvos inimigos sensíveis, selecionem e ataquem com precisão. Seus operadores não são expostos à detecção ou ao fogo inimigo enquanto guiam as munições. Também não dependem de aeródromos ou grandes áreas abertas para lançar as MRP, possibilitando-lhes grande versatilidade e flexibilidade. Elas podem ser rapidamente desdobradas e empregadas em combate com reduzida cauda logística, aumentando o poder de combate das frações dotadas do sistema, desde as mais elementares.

Alguns modelos de Munições Remotamente Pilotadas podem ser tranportados na mochila do militar, como a Hero 30, desenvolvida e fabricada pela UVision de Israel. Pesa menos de três quilos e paira a 500 metros de altura por até 30 minutos. A munição possui a modalidade “encontrar e destruir”, sem que haja a necessidade de ordens finais do operador para o ataque.

Figura 2: Sistema Hero 30
Fonte: www.militarytimes.com
 

Outro exemplo de MRP é a Switchblade 600, fabricada pela empresa estadunidense AeroVironment. Com um raio de ação de 40 quilômetros, pode monitorar uma grande superfície (como uma pequena cidade), permanecendo no ar por até 40 minutos. Ao localizar um alvo, tem a capacidade de atacar um objetivo terrestre com carga explosiva semelhante a dos mísseis anticarros atuais. O Switchblade 300, da mesma fabricante, tem caraterísticas mais simples e, com cabeça de guerra de menor capacidade, é utilizada para atingir alvos não-blindados, radares e tropa.

Figura 3: Switchblade 300 e seu meio de lançamento
Fonte: https://www.edrmagazine.eu
 

Reduzido efeito colateral

A capacidade de monitorar o campo de batalha, mesmo por longos períodos, e só então atacar com alta precisão alvos fixos ou móveis configura-se como grande diferencial para a redução de efeitos colaterais, especialmente quando comparados às granadas convencionais da artilharia.

As MRP podem ser destinadas para a resolução de "situações ambíguas" do combate, como, por exemplo, na distinção entre uma viatura militar que transporta soldados e um ônibus que transporta civis. O uso de MRP possibilita melhor distinção entre combatentes e não combatentes evitando danos indesejáveis.

Outra vantagem é a capacidade de alterar ou mesmo abortar uma missão se a situação mudar após o lançamento. Isso permite que ela atinja um alvo com precisão sem causar baixas em civis ou danos à infraestrutura local.

Conclusão

O apoio de fogo convencional de artilharia e morteiro demanda planejamento detalhado, exige empreendimento de muitos equipamentos e pessoal e pode ocasionar danos colaterais, especialmente em áreas urbanas. Os SARP convencionais podem detectar ameaças, mas, em grande parte dos modelos, não possuem armamento. Para completar esse hiato, têm-se destacado as munições remotamente pilotadas.

As MRP são relativamente baratas, entregam flexibilidade, precisão e eficiência, proporcionando menor risco às operações.

Atualmente, as MRP já são elementos permanentes no arsenal de muitos países, como Armênia, Azerbaijão, China, Índia, Irã, Israel, Rússia, Estados Unidos, Turquia e, mais recentemente, a Ucrânia.

A adoção e implementação dessa capacidade pela Força Terrestre certamente trará importante incremento ao poder de combate e à dissuasão do Exército Brasileiro.

 

 

AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!
 
 
 

Ezequiel Strassburger – Maj Cav
Seção de Doutrina do CI Bld
Daniel Bernardi Annes – Ten Cel
Comandante do CI Bld
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