A Forja 74

IMPLEMENTANDO A VBTP MR 6X6 GUARANI PARA OPERAÇÕES DE AÇÕES HUMANITÁRIAS
Cap Castilhos Almeida – CI Bld

             O Exército Brasileiro (EB), atendendo às demandas da Doutrina Militar Terrestre (DMT), tem buscado aprimoramento de suas capacidades de apoio a órgãos governamentais. Em 2017, apenas no segundo semestre, a F Ter foi empregada em 17 operações subsidiárias de ajuda humanitária – de acordo com a Divisão de Coordenação Civil e Militar do Comando de Operações Terrestres.

             Para atender ao novo panorama de emprego das tropas brasileiras, devem ser exploradas as ferramentas disponíveis. A VBTP MR 6x6 Guarani é a mais nova e moderna viatura em operação nas unidades do Exército e possui diversos meios úteis à condução de operações de ajuda humanitária, todavia devem ser buscados implementos e agregados tecnológicos que potencializem essas capacidades.

             Apesar de contar com um moderno sistema de detecção e extinção de incêndio e proteção QBN para a tropa, a VBTP MR 6x6 Guarani poderia contar com máscaras individuais para tropa e tripulação, desta maneira seria possível abrir o compartimento em ambiente contaminado por fumaça ou outros gases e realizar posterior descontaminação. Algumas viaturas utilizadas por outros países contam com essa opção, a exemplo do Stryker M1126, que é empregado pelo Exército do Estados Unidos da América.

             No complexo e multifacetado cenário de emprego de tropas em ajuda humanitária, há sempre a constante preocupação com a segurança dos militares que prestam o apoio. Neste contexto, visando dar condições para que a tropa cumpra melhor sua missão, seria prudente estudar a adoção de armamentos não-letais para as viaturas empregadas em ajuda humanitária. Soluções como o sistema não-letal remotamente controlado da empresa RAFAEL (Fig. 1) – apresentado na EUROSAT de 2012 – possuem as possibilidades de lançar feixe de luz para busca ou ofuscar perturbadores da ordem, disparar munições de elastômero, lançar granadas, espargir gás, além de possuir alto-falantes.

Figura 1: LWS da empresa RAFAEL
Fonte: Empresa RAFAEL

             Os recentes episódios de emprego de tropas em episódios de ajuda humanitária têm ocorrido em situações de total calamidade e carência básica absoluta da população. Por vezes, faz-se necessário que nesses locais exista uma rede elétrica mínima para suprir outros meios, como, por exemplo, uma unidade de atendimento médico ou ferramentas de resgate. Dessa forma, o emprego de Viaturas que possuam a capacidade de gerar energia externa é fundamental. Nesse contexto, a 17-kW APU é uma estação geradora de energia auxiliar desenvolvida pela empresa Jenoptik – instalada em diversas unidades das famílias Leopard 2, Puma e Boxer do Exército Alemão – para emprego em viaturas militares. Fácil de ser instalada, dispondo de tomadas militares padrão OTAN, desenvolvida no conceito modular e leve, esta ferramenta pode ser rapidamente incorporada a qualquer viatura blindada, inclusive na VBTP-MR Guarani.

Figura 2: Stryker M1 126 com implemento para remoção de obstáculos
Fonte: USARPAC (Exército Estados Unidos no Pacífico) 

             O ambiente operacional em uma operação de ajuda humanitária é o retrato do caos. Ruas destruídas, infraestruturas básicas em ruínas, etc. Um dos problemas a ser enfrentado é a mobilidade nas vias degradadas. Os meios blindados das forças armadas são, regularmente, utilizados para a desobstrução e limpeza de vias de acesso, a fim de permitir a passagem de comboios, tropas, ambulâncias e outras viaturas. Para melhor atender essa demanda seria essencial a instalação de implementos nas viaturas (Fig 2). A Engenharia Brasileira já possui experiência nesse tipo de operação em função de sua atuação no território nacional e em missões de paz como a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH). O mercado internacional dispõe de diversos implementos que podem ser adaptados às VBTP-MR do Brasil.

Fontes:

http://www.army.mil/info/organization/unitsandcommands/commandstructure/usarpac/ 

http://www.rafael.co.il

https://www.jenoptik.com 

 

COMPARAÇÃO ENTRE A VIATURA BLINDADA DE RECONHECIMENTO EE-9 CASCAVEL E A VIATURA BLINDADA GUARANI VERSÃO UT30BR
Cap Gonzales - CI Bld

             Esse artigo visa fazer uma comparação entre as características técnicas da Viatura Blindada de Reconhecimento (VBR) EE-9 CASCAVEL, utilizada no Exército Brasileiro (EB) desde a década de 70, e da Viatura Blindada Guarani UT30BR (Unmanned Turret 30mm Brazil), que está sendo distribuída nos Batalhões de Infantaria Mecanizados do EB. O quadro resumo abaixo busca traçar de forma direta a comparação entre as torres das citadas Viaturas Blindadas (VB):

Torre

ET 90-II

UT30BR

Armamento Principal

Canhão 90 mm

Canhão 30 mm

Armamento Secundário

02 Metralhadoras 7,62 mm

01 Metralhadora 7,62 mm

Lançador de granada fumígena

06 (seis)

08 (oito)

Cortina de fumaça

30m (largura)

100m (largura)

Giro da Torre

Manual

Elétrico

Carregamento

Manual

Automático

Empaiolamento de munições do armamento principal

44 (quarenta e quatro)

200 (duzentos)

Empaiolamento de munições do armamento secundário

2200 (dois mil e duzentos)

690 (seiscentos e noventa)

Optrônico para o comandante

Não

Sim

Optrônico para o atirador

Não

Sim

Telemetria laser

Não

Sim

Munição de energia química

Sim

Sim

Munição de energia cinética

Não

Sim

Precessão

Manual

Automática

Detector de emissão laser

Não

Sim

Transferência automática de alvos

Não

Sim

             Inicialmente, percebemos a grande diferença entre os calibres dos armamentos das duas Viaturas. A VBR Cascavel possui um canhão 90mm e a UT30 BR consta com um Canhão 30mm. Essa diferença tem como consequência imediata o poder de penetração da munição, porém os módulos optrônicos diurnos e noturnos existentes na VB Guarani amenizam essa diferença uma vez que a expectativa de acerto do primeiro impacto e a cadência de tiro é maior, além da possibilidade de uso de munição cinética na torre UT30 BR.

             Cabe ressaltar, ainda, que a Torre UT30BR não é tripulada, o que gera maior proteção blindada ao Comandante da Viatura e ao Atirador, pois ambos ficam posicionados no interior do Guarani. Na VBR Cascavel, ambos os militares devem ocupar a torre, ficando protegidos apenas pela blindagem da torre que é de 16mm na dianteira e 8mm nas laterais e traseira.

             Por fim, deve-se levar em consideração que a VBR Cascavel foi desenvolvida, dentro dos parâmetros existentes à sua época, visando combinar, harmonicamente, o máximo poder de fogo, mobilidade e proteção balística. A VB Guarani possui outras evoluções tecnológicas que auxiliam o trabalho da guarnição como sistema de ar condicionado, bancos suspensos com encosto para cabeça e cintos de segurança com cinco pontos. Ainda pode-se agregar a capacidade anfíbia (com uso de flutuadores para a UT30BR), proteção anti minas e controle de enchimento de pneus como fatores que contribuem sobremaneira para o bom desempenho das missões. Todos esses agregados tecnológicos nas Viaturas Blindadas Guarani versão UT30BR visam apoiar pelo fogo os Batalhões de Infantaria Mecanizados do EB.  

Fontes:

Um Olhar Sobre o Passado - A fábrica de estojos e espoletas de artilharia em Juiz de Fora, Expedito Carlos Stephani Bastos

Manual Técnico da Viatura Blindada de Reconhecimento EE-9 Cascavel, Engesa-Engenheiros Especializados S/A

Manual Técnico da Viatura Blindada de Reconhecimento EE-9 Cascavel, Torre ET-90 II,ENGESA-Engenheiros Especializados s/a

Manual Técnico 2355-005-12 da Viatura Blindada de Transporte de Pessoal Guarani, 1ª edição 2015

Guia do Usuário Torre Automática 30 mm (UT30BR, Elbit Systems

https://www.orbitalatk.cotm/defense-systems/armament-systems

http://elbitsystems.com/products/land-systems/unmanned-turret/

 

ANÁLISE DAS PERDAS DE LEOPARD 2 TURCOS NO NORTE DA SÍRIA
Maj Aguiar – CI Bld

             Em dezembro de 2016, a imprensa internacional noticiou que vários Leopard 2A4 turcos foram destruídos na Guerra Civil Síria. As análises técnicas e táticas dessas perdas trazem um ganho de conhecimento para operadores de blindados.

             No final de agosto de 2016, o governo turco lançou a Operação Escudo do Eufrates (Euphrates Shield), na região a leste do rio Eufrates e a oeste da cidade de Azaz, na província de Aleppo. A operação conduzida pelos militares turcos e por rebeldes sírios (apoiados pelos turcos), tinha como objetivo forçar o deslocamento do Estado Islâmico (EI) para fora do norte da Síria. Devido à tenaz resistência das tropas do EI, que conseguiram destruir alguns M60 A3, o governo turco resolveu empregar unidades de Leopard 2A4 na ofensiva para a captura da importante cidade de Al Bab.

             A 2ª Brigada Blindada de Kartal (leste de Istambul) foi acionada e, com os seus dois regimentos (ao todo 80 carros de combate), foi deslocada para Islahiye em agosto, e, de lá, as guarnições se prepararam para o emprego no norte da Síria. Os carros de combate (CC) receberam uma pintura camuflada especial para o terreno onde iriam operar. Com caminhões prancha, o 1º Regimento de Carros de Combate (com 43 CC) foi transportado para o campo de batalha, a partir do final de novembro.

Figura 1: Ataque a Al Bab
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_al-Bab#/media/File:Albab2.png

             A unidade foi, então, integrada à ofensiva em Al Bab da direção oeste. Em virtude do alcance de suas armas, os CC foram empregados em primeiro escalão, permanecendo por longos períodos em atividades de vigilância, situação em que, na maior parte do tempo, ficavam estáticos. Com isso, os blindados foram, logicamente, alvos de tropas do EI equipadas com mísseis guiados e outras armas anticarro.

             Em 12 de dezembro de 2016, um Leopard 2 foi destruído por um míssel TOW 2 (capturado pelo EI), disparado a uma distância superior a 1000 metros. No dia seguinte, outros dois CC, empregados com negligência, foram atingidos na retaguarda por um míssil Kornet (9M113), de fabricação russa, fazendo com que houvesse a explosão da torre. Declarações turcas relatam que 4 soldados tiveram ferimentos leves, 2 ferimentos graves e um morreu.

             Entre 21 e 22 de dezembro de 2016, uma série de perdas aconteceram na região de alturas dominantes chamadas “Hospital”, a leste e também ao sul de Al Bab. Primeiro, um CC passou sobre uma mina e sofreu danos na lagarta, perdendo a polia motora esquerda. Um segundo carro, que tentou rebocar o outro, sofreu avarias técnicas, ficando no local. Essas guarnições tiveram que abandonar as viaturas blindadas de combate (VBC). O EI chegou a postar um vídeo nas redes sociais reivindicando a captura de dois Leopard 2 turcos. O carro com avarias técnicas foi destruído por caças turcos, já a VBC com danos na lagarta foi explodida pelo EI.

             Em outra situação, um carro de combate, ao passar por uma trincheira, foi atingido por um IED e teve seu chassi avariado. Mais 3 Leopards 2 foram destruídos por armas anticarro e, em parte, pelos próprios F16 turcos, visando à negação do uso desses meios blindados ao EI (há alguns indícios de fratricídio, porém não foram confirmados). Após todos esses revezes, a ofensiva turca em Al Bab foi interrompida.

             Não tem sido incomum, em conflitos assimétricos atuais, a destruição de modernas VBC ou Main Battle Tanks (MBT), como o M1 Abrams, pois a blindagem de um CC não o protege completamente de todas as ameaças existentes no campo de batalha, especialmente em ambientes urbanos e em combates assimétricos. Mesmo assim, os fatos mancharam a reputação da renomada plataforma Leopard.

Figura 2: Leopard 2 A4 turco destruído no combate de Al Bab
Fonte: https://imgur.com/r/CombatFootage/7Yrny

             As razões para essas graves perdas são múltiplas. A partir da observação dos vídeos disponíveis, impressiona que os blindados atingidos permaneceram longos períodos em campo aberto, especialmente em pontos elevados, tornando-se alvos fáceis. Também não houve a proteção aproximada necessária feita pelos fuzileiros.

             Outro fator a considerar é que essa brigada turca, antes da ofensiva em Al-Bab, teve que lidar com uma grande perda de pessoal, como consequência da tentativa de golpe militar na Turquia. Como foi altamente divulgado pela mídia internacional, alguns Leopard conquistaram pontos chave em Istambul. Como desdobramento do fracasso da revolução, quase todos os oficiais e muitos sargentos foram presos ou demitidos pelo governo. Essas baixas de pessoal nas tropas blindadas turcas tiveram influência negativa direta nas unidades que empregavam o Leopard.

             Após os sucessos iniciais, a ofensiva turca ficou cada vez mais retida, entre outros motivos, porque o EI concentrou suas forças na região de Al Bab. Acredita-se que as perdas do EI na região de Al Bab chegaram a 400 mortos. O número de rebeldes sírios e militares turcos mortos também têm sido alto.

             As forças do EI provaram-se taticamente competentes e lutaram com moral elevado. Isso representou grandes problemas para os inexperientes líderes turcos. Além disso, as táticas do EI revelaram-se um grande desafio para as tropas turcas, ainda insuficientemente treinadas para o combate assimétrico.

             Esse tipo de combate caracteriza-se pelo emprego de inúmeras minas terrestres, de artefatos explosivos improvisados (Improvised Explosive Devices - IED), do uso de carros-bomba e de ataques suicidas com explosivos (homens-bomba). Além disso, tem sido uma prática comum das forças do EI, esconder-se atrás das linhas inimigas e só depois de algum tempo, retomar ações para atacar, surpreendentemente, pela retaguarda. Esse tipo de ação, contra carros em reserva ou em áreas de retaguarda, aconteceu nas primeiras derrotas do Leopard 2, nos dias 12 e 13 de dezembro.

             Tudo isso esclarece parcialmente as perdas do Leopard 2. Porém, em algumas situações, se a tropa tivesse empregado um comportamento tático apropriado, os carros nâo teriam sido destruídos.

             Defensores da família Leopard acreditam que se os Leopard 2A4 turcos tivessem incrementos disponíveis nos modelos que sucederam a versão A4 (principalmente como o Leopard 2A6M e o Leopard 2A7 alemães), teriam tido mais sucesso e menos baixas. Tal efetividade de proteção pôde ser comprovada por uma guarnição de Leopard 2A6M canadense, que sobreviveu a um incidente com explosivos improvisados no Afeganistão, em 2007.

             Como consequência direta da destruição dos Leopard 2A4 e M60 A3, o governo turco resolveu investir em melhorias técnicas dos seus Leopard 2A4, focando na proteção blindada da torre e chassis, proteção contra minas e IED, melhores optrônicos para busca e enjamento de alvos, e sistemas de proteção contra armas anticarro.

             Por fim, conclui-se que os meios blindados são um sistema cada vez mais complexo, no qual tanto a dimensão humana como o material devem receber a devida atenção. O emprego de um carro de combate moderno, como o Leopard 2A4, mas tripulado com guarnições inexperientes, trouxe fúnebres resultados no campo de batalha.