CRIAÇÃO DO 1º ESQUADRÃO DE RECONHECIMENTO MOTO-MECANIZADO NA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA
No início da década de 40, o Exército possuía poucas unidades blindadas e motorizadas e o conceito de tropa mecanizada em operações de reconhecimento não existia no Brasil. Com essa finalidade, o 2ª Regimento Moto-Mecanizado, sediado na Capital Federal (então cidade do Rio de Janeiro), recebeu a ordem de preparar um de seus Esquadrões para integrar a FEB. Foi designado o 3º Esquadrão de Reconhecimento e Descoberta, sendo transformado em 1º Esquadrão de Reconhecimento.
O Esquadrão foi criado de acordo com o que preconizava a doutrina norte-americana, com sua organização “Triangular” das peças de manobras. De acordo com Pitaluga (1947) “a organização do 1º Esquadrão de Reconhecimento era idêntica a dos norte americanos, ou seja: 1(um) Pelotão do Comando e 3 (três) Pelotões de Reconhecimento” perfazendo um total de 156 (cento e cinquenta e seis) militares.
Cada Pelotão de Reconhecimento era basicamente constituído de três patrulhas, cada uma com 1 (um) carro de reconhecimento M-8 Greyhound e 2 (duas) viaturas Jeep ¼ Ton. Os M-8 possuíam 1 (um) canhão 37 mm e 1 (uma) metralhadora .30. Uma viatura Jeep era equipada com uma peça de metralhadora Browning .30 e a outra conduzia uma peça de morteiro 60mm M2. Além das viaturas M-8 e Jeeps, o Esquadrão era dotado de outras viaturas como o Half-Track M3 A1, reboques diversos e viaturas de transporte 2 Ton. 6x6, totalizando 47 (quarenta e sete) viaturas.
Os fundamentos de reconhecimento mecanizado eram desconhecidos no Brasil. Por isso os manuais norte-americanos tiveram de ser traduzidos para o português, a fim de que a doutrina e organização deste novo tipo de unidade fossem aprendidas. Entre esses manuais havia o “Efetivo e Dotação de Material para o Esquadrão de Reconhecimento - Tipo Força Expedicionária Brasileira”, onde constavam todas as funções e o material previsto para equipar um Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado.
Os militares recrutados passaram então a treinar as técnicas ensinadas pelos americanos, improvisando com o material nacional. O Esquadrão permaneceu nesta situação até o embarque do 2º Pelotão no chamado destacamento “FEB”, primeira parte do efetivo da FEB a embarcar para a Itália. Já em solo europeu o pelotão recebeu os materiais norte americanos, entre eles as viaturas M8 Greyhound, os Jeep Willys e os M3 Half-Track, e rápido treinamento de adaptação ao novo armamento, passando a integrar a linha de frente do V Exército Norte-Americano.
Quando o Esquadrão chegou à Itália não existia uma necessidade de tropas mecanizadas para reconhecimento, em virtude das características montanhosas em que se encontrava a linha de frente do V Exército, por isso o Esquadrão passou a ser o último na ordem de prioridade de recebimento do material bélico. Em consequência, foram priorizados o treinamento físico e a manutenção do moral, a fim de manter a disciplina da tropa enquanto esperavam para entrar em combate.
Após o rompimento da Linha Gótica o Esquadrão recebeu missões de reconhecimento e adquiriu grande parte de seu material, somente poucas horas antes de partir para o combate. Contou com a criatividade e o bom preparo dos seus oficiais e praças, a fim de que estivesse em condições de combater as Forças do Eixo na maior guerra que a humanidade já viu. Devido a atrasos e dificuldades logísticas, decorrentes da situação de guerra, os militares tiveram pouco tempo de adaptação ao seu novo armamento, terminando seu adestramento no calor do combate.
Durante a atuação do 1º Esquadrão na Itália, ora operando como tropa de infantaria (ou até engenharia), ora como cavalaria, destacou-se, entre muitas, a participação na conquista de Montese e nas batalhas de Collecchio e Fornovo. O esquadrão de Reconhecimento foi decisivo na rendição da 148ª Divisão Alemã, onde foram capturados 18.981 prisioneiros, mais de 1.500 veículos, 80 peças de artilharia, 4.000 cavalos, equipamentos de montanha.
A importância da criação do Esquadrão de Reconhecimento da FEB deve-se ao fato de ter sido o alicerce da atual Cavalaria Mecanizada. A doutrina e o emprego dos blindados sobre rodas ainda hoje se baseiam nas experiências em combate angariados na 2ª Grande Guerra. As lições aprendidas com o Esquadrão, na Campanha da Itália, devem servir de exemplo para a Força Terrestre de hoje, pois ainda são atuais. Das quais devemos salientar: a necessidade de contínuo aperfeiçoamento das doutrinas de combate, modernização dos produtos de defesa e a constante preocupação com a logística.
“Quando em Montese começou vossa ofensiva com os carros de aço e vossos homens decididos, na têmpera rija havia uma força viva impulsionando-os a nunca serem vencidos!....”
Extrato do poema “Esquadrão de Reconhecimento”, autor desconhecido
Referências: |
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BRASIL. Ministério da Guerra. Aviso nº 572-484, de 13 de dezembro de 1943. Organização do 1º Esquadrão de Reconhecimento orgânico da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária. Boletim Reservado do Exército. Rio de Janeiro, RJ,nº 22, p.1327, de 28 de dezembro de 1943. |
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PITALUGA, Plínio. Relatório do 1º Esquadrão de Reconhecimento/ 1ª Divisão de Infantaria da F.E.B. [s.l.].S.G.M.G. Gabinete Fotocartográfico, 1947. |
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______.Relatório dos sargentos do 1º Esquadrão de Reconhecimento(1944-1945) - Campanha da Itália. Rio de Janeiro, 1945. |
Diogo Von Holleben Thomé - Cap Cav
Chefe da Seção Técnica de Ensino
Carlos Alexandre Geovanini dos Santos – Ten Cel
Comandante do CI Bld