Villers-Bretonneux: 100 anos desde a primeira batalha entre carros de combate

Villers-Bretonneux: 100 anos desde a primeira batalha entre carros de combate

 

Figura 1: Villers-Bretonneux em 1918
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Villers-Bretonneux é uma cidade francesa localizada no departamento do Somme, distante cerca de 112 km de Paris e que ao longo da história foi palco de diversas batalhas, como a defesa de Amiens, na Guerra Franco-Prussiana, em 1870 e o abate do famoso piloto alemão Barão Manfred Von Richthofen, o Barão Vermelho, em 1918.

Sua localização estratégica em relação à Amiens a tornaria novamente campo de batalha durante a Primeira Guerra Mundial, onde britânicos e alemães fariam história, empreendendo o primeiro enfrentamento de carros de combate da história, em 24 de abril de 1918.

No início daquele ano, a situação alemã não era nada favorável. Desgastada economicamente e militarmente após anos de combates e tendo perdido milhões de soldados entre mortos e feridos, seu exército enfrentava sérios problemas de efetivos que ameaçavam sua permanência na guerra.

A vitória germânica sobre os russos pôs fim aos confrontos no frente Oriental, permitindo que um grande contingente fosse rocado para a frente Ocidental onde, sob o comando de Erich Ludendorff, o Império Germânico lançou a Ofensiva da Primavera. O objetivo era conquistar Amiens, dividindo os Exércitos Francês e Britânico em dois, ou pelo menos, cortando seu eixo de suprimentos.

Em sua marcha em direção a Amiens, as forças alemãs contavam com 15 tanques modelo A7V, de 30 toneladas, equipados com um canhão 57 mm na parte frontal e 6 metralhadoras 7.9 mm. A guarnição era composta por 18 militares, que apelidaram o tanque de “O Monstro”.

 

Figura 2: Tanque alemão A 7V
Fonte:
 

Do lado aliado, defendendo a área, se encontrava a 8ª Divisão Britânica, já desgastada pelos combates anteriores, alguns legionários franceses e um destacamento de tanques composto por 3 MARK IV (1 “macho” e 2 “fêmeas”) e 7 Whippets, localizado na localidade de Cachy.

O MARK IV pesava cerca de 28 toneladas e possuía uma guarnição de 7 ou 8 militares, conforme a versão do carro. O modelo conhecido como “macho” era equipado por 2 canhões 57 mm, montados um em cada lateral e 3 metralhadoras calibre .303. O modelo “fêmea” não dispunha de canhões, mas 6 metralhadoras calibre .303.

O tanque médio Whippet, por sua vez, pesava 14 toneladas, possuía guarnição de 3 homens e 4 metralhadoras .303. Sua velocidade de 13 km/h era sua principal característica.

O ataque alemão à Villers-Bretonneux se iniciou na noite do dia 23 de abril com pesados bombardeios de munições explosivas e de gás mostarda, causando severas baixas aos franceses, australianos, neozelandeses e britânicos da 8ª Divisão. Na manhã do dia 24, o ataque terrestre não encontrou muita resistência e Villers-Bretonneux foi tomada, rompendo a linha defensiva em cerca de 5 km.

Depois de perder Villers-Bretonneux, os britânicos designaram a 1ª Seção da Companhia ALFA, do 1º Batalhão do Corpo de Tanques, comandado pelo Tenente Frank Mitchell, localizado na vila de Cachy, para deter o avanço alemão em direção à Amiens. Foi neste momento que estaria selado o primeiro confronto entre tanques da história.

Os 3 MARK IV comandados por Mitchell logo encontraram os 3 A7V, liderados pelo 2º Tenente Wilhelm Biltz, e tropas de infantaria.

 

Figura 3: Frank Mitchell (esquerda) e Wilhelm Biltz (direita)
Fonte: Domínio público
 

Mais de 24 tiros foram disparados pelo tanque de Mitchell mas, com a trepidação e o movimento, era impossível fazer uma pontaria precisa. Os A7V responderam ao fogo, também sem eficácia na pontaria. Foi então que Mitchell decide parar para poder permitir ao atirador um tiro mais preciso, apesar de se tornar um alvo estático. Esta ação fez os alemães suporem que o MARK IV fora atingido, passando a atirar apenas nos outros dois tanques “Fêmea”.

Ao serem engajados, os dois MARK IV recuaram deixando Mitchell sozinho enfrentando os 3 A7V. Contudo, o Sgt John Mackenzie, atirador do tanque de Mitchell acerta o A7V “Nixe”, de Biltz, matando seu atirador e ferindo outros 2 militares. O restante da guarnição abandonou o carro temendo que este se incendiasse.

Os dois A7V remanescentes: “Schnuck” e “Siegfried” seguiram avançando e, ante a morte certa, Mitchell determinou que seus atiradores disparassem incessantemente. Inacreditavelmente, mesmo estático e em inferioridade numérica, eles conseguiram fazer os A7V recuarem.

 

Figura 4: Tanque MARK IV
Fonte: Domínio público
 

Mais tarde, na noite daquele 24 de abril, a 13ª e a 15ª Brigadas australianas foram incumbidas de atacar para reconquistar o terreno perdido. Apesar da inferioridade numérica, os australianos derrotaram os alemães, reconquistando Villers-Bretonneux e impedindo que Amiens fosse atacada.

Embora pareça rápido e insignificante no contexto da 1ª Guerra Mundial, aquele episódio marcou para sempre o curso da história militar. Pela primeira vez um carro de combate enfrentou outro carro de combate, revelando serem estes oponentes à altura.

 

Fonte:

- MIZOKAMI, Kyle. The First Tank-on-Tank Battle Happened 100 Years Ago. Disponível em:

https://www.popularmechanics.com/military/weapons/a20076916/first-tank-on-tank-battle-wwi-villers-bretonnex/>.2018.

- HUNT, David. World War 1 History: First Tank Versus Tank Battle. Disponível em:

<https://owlcation.com/humanities/WWI-First-tank-versus-tank-battle> .

- THE TANK MUSEUM. Documentário: Tank vs. Tank: Villers-Bretonneux, April 1918. Bovington, UK, 2018.

 

 

 

AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!

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