Instruções comuns necessárias aos integrantes de Unidades de Infantaria Mecanizada
Com a chegada da Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) Média Sobre Rodas (MSR) 6x6 “Guarani” nas unidades de Infantaria Mecanizada, novos conhecimentos se mostraram essenciais à tropa. Instruções já consagradas e previstas nos Programas Padrão e CTTEP já não mais satisfazem as novas necessidades das antigas unidades de Infantaria Motorizadas, agora Mecanizadas.
O desafio de integrar o novo produto de defesa (PRODE) na rotina de instrução da Organização Militar (OM) é de responsabiblidade dos militares possuidores do Curso de Operação da Viatura do “Guarani” formados pelo Centro de Instrução de Blindados (CIBld). Ao retornar às suas unidades recebem a nobre missão de formar suas guarnições (comandantes, motoristas e atiradores), bem como nivelar os conhecimentos básicos dos integrantes da OM no que diz respeito às instruções comuns e necessárias para que a doutrina de uso de meios blindados comece a ser incorporada em quartéis que até pouco tempo não tinham o “espírito blindado”.
Os assuntos que devem ser explorados são diversos, mas existem alguns que devem ter maior atenção do comando, oficiais de operações e integrantes das seções de instrução de blindados (SIBld). Esses assuntos estão basicamente relacionados ao uso correto do meio, segurança do pessoal, evacuação de feridos no interior da viatura blindada, conhecimentos básicos da viatura e emprego técnico e tático.
No que diz respeito à preservação do meio e segurança do pessoal, como instruções necessárias a todos os integrantes da OM podemos citar as normas para uso e emprego de viaturas blindadas, balizamento de viaturas e manobra de força.
De conteúdo factual, as normas para o uso e emprego de blindados são extraídas dos Cadernos de Segurança na Instrução, Programa de Instrução Militar do COTER, manuais técnicos dos próprios meios blindados e diretrizes gerais transmitidas pelo escalão superior. Tem como objetivo evitar possíveis acidentes em atividades realizadas com as viaturas blindadas, que geralmente são fatais tratando-se de um meio que pesa na ordem de toneladas.
O balizamento de viaturas se mostra necessário pelo tamanho e forma de condução específicos de cada tipo de viatura. Os procedimentos para balizar de forma correta e segura devem ser treinados e incorporados. Dessa forma, são minimizados os danos materiais em locais como garagens, rampas de lavagem, embarque em prancha e pontos estreitos de passagem.
Com as instruções de conduta auto e manutenção, os motoristas, mecânicos, integrantes da guarnição e tropa embarcada devem ser instruídos a respeito da manobra de força que é a aplicação de cabos, correntes e outros equipamentos que tem a finalidade de movimentar ou içar cargas pesadas. A instrução é de importância ímpar, para que todos saibam identificar os equipamentos utilizados, os processos e as medidas de segurança na execução da manobra de força visando, por exemplo, rebocar a viatura blindada danificada, com seu movimento restringido ou impedido por atoleiros.
A instrução de evacuação de feridos deve procurar atender também as particularidades da VBTP. Os processos de evacuação são executados por militares da própria guarnição ou GC embarcado e a urgência da operação exige técnicas para retirada do ferido utilizando além dos próprios meios dos militares (cintos, bandoleiras, cordas e etc), os materiais disponíveis na própria viatura blindada (encosto de bancos, plataforma do atirador, pá e etc) para imobilizar e remover o ferido do interior do “Guarani”.
A apresentação do novo meio para os recém - chegados na OM também é de grande valia. O primeiro contato com o “Guarani” faz com que o novato se sinta parte integrante da unidade, inclusive para aqueles que trabalharão na área de pessoal, e logística/administrativa. Conhecendo os sistemas, características, possibilidades e limitações da VBTP, os militares dessas áreas terão uma visão mais exata das reais necessidades de pessoal e material da OM, otimizando os processos.
O estudo sobre os tipos de blindagem, armamentos e munições anticarro agora devem ser de domínio público dos integrantes da OM Mecanizada, não apenas de conhecimento dos militares que são atiradores de AT - 4 ou chefes de peça de canhão Carl Gustaf, pois o principal meio de transporte dos pelotões e apoios agora é alvo compensador e todos devem ser capazes de identificar que meios do inimigo podem ser uma real ameaça para a VBTP.
Refinando um pouco mais o conhecimento, a identificação de blindados e tropas traz à tona, principalmente para os militares envolvidos com o planejamento de operações militares, informações importantes sobre as características, possibilidades e limitações dos meios empregados por nós e pelo inimigo. Essas informações estão diretamente ligadas aos fatores da decisão no que diz respeito aos meios, terreno e ao inimigo e devem ser levadas em consideração no levantamento das Linhas de Ação.
Como toda tropa que utiliza meios blindados, a vulnerabilidade aos ataques aéreos também é uma realidade para os Batalhões de Infantaria Mecanizados. Identificar as aeronaves utilizadas pelo nosso país e por países da América do Sul é um exemplo de instrução que pode ser realizada no âmbito das unidades. Conhecer e executar técnicas de busca e identificação de aeronaves e utilizar as medidas ativas e passivas de autodefesa aos ataques aéreos são instruções procedimentais que podem ser conduzidas, buscando uma maior realidade.
Até a camuflagem ficou um pouco mais complexa para quem se preocupava apenas com a camuflagem individual. Esconder um gigante de mais de 2,60m de altura não é tarefa fácil. A instrução procura identificar os principais meios, tecnologias e processos utilizados na camuflagem de meios blindados e é sem dúvidas importante para os militares do grupo de combate (GC).
As técnicas, táticas e procedimentos durante a progressão, formações de combate e utilização do terreno, previstas nos Manuais de Campanha C 7-5 Exercícios para a Infantaria, Instrução Individual para o Combate C 21-74 e Caderno de Instrução 7-10 Pelotão de Fuzileiros, agora ganham vulto quando embarcamos a tropa nos “Guaranis”. A dificuldade de se orientar e progredir embarcado, pela própria rapidez no deslocamento e ambiente confinado, força o novo infante mecanizado a melhorar a simples instrução de orientação, inserindo novas medidas de coordenação e controle, e incluindo aparatos tecnológicos. O estudo do terreno para a progressão embarcada deve ser um pouco mais detalhado, identificando na carta e no próprio terreno os obstáculos para a VBTP, pontos de desembarque, capacidades de pontes, vias de acesso e etc. Os processos de progressão e seus procedimentos durante as formações de combate utilizados pelas frações mecanizadas até o valor pelotão devem ser treinados e ensaiados como sempre foram aqueles realizados com a tropa desembarcada.
A tropa de Infantaria Mecanizada pode ser utilizada nos combates de baixa, média e alta intensidade, empregando características do combate móvel em operações em larga frente e em profundidade que exigem mobilidade, informações precisas e rapidez nas ações. Aliados a isso, temos os fatores da decisão, as incertezas, os imponderáveis, a desorientação e uma série de outros fatores que podem influenciar na tomada de decisão. Nesse contexto, a preocupação com o emprego preciso do armamento e tecnologias que possam auxiliar o comandante tático na tomada de decisões podem minimizar o risco do fratricídio. Para isso, os novos integrantes das unidades mecanizadas devem conhecer as principais causas do fratricídio no combate moderno e aplicar as técnicas para a redução do mesmo em operações com blindados.
Concluindo sobre o assunto, esse texto buscou apresentar aos militares que estão servindo nos BI Mec, instruções que fazem parte da grade curricular dos alunos do Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires e que devem ser difundidas nas unidades que estão recebendo os novos meios blindados. Essas instruções são consideradas obrigatórias para os integrantes da OM, por serem comuns e por buscarem nivelar os conhecimentos básicos sobre os assuntos destacados no corpo deste artigo. Com isso, a necessidade de entendimento do comando sobre a importância dessas instruções, somado à motivação dos integrantes das SIBld, devem ser catalisadores da integração do novo PRODE, contribuindo para a mecanização da infantaria.
Jonathas Silva Nascimento - Maj Inf
Comandante do Corpo de Alunos do CI Bld
Carlos Alexandre Geovanini dos Santos - Ten Cel
Comandante do CI Bld