Gerenciamento Logístico de Frotas Blindadas e Mecanizadas
As Tropas Blindadas e Mecanizadas tem como premissas o emprego da proteção blindada, do poder de fogo, da mobilidade e da ação de choque como fator dissuasório para a implementação da Dissuasão presente na Estratégia Nacional de Defesa (END).
Uma das premissas básicas para que este fator dissuasório possa ser alcançado é a existência de viaturas blindadas plenamente disponíveis. Com a adoção de novos meios blindados pelo Exército Brasileiro, particularmente com a chegada das novas viaturas da Família Leopard nos meados de 2010, e recentemente com o Programa Guarani, o Projeto da VBCOAP M 109 A5 + BR e as diversas aquisições via FMS (Foreign Military Sales), o Exército tem projetado uma frota blindada com mais de 4000 viaturas com elevado agregado tecnológico, o que tem gerado um grande desafio logístico para manter cadeias de manutenção, suprimento, evacuação e transporte eficientes, eficazes e efetivas.
Frente a essa realidade, e a fim de prestar o apoio logístico necessário, as tropas blindadas e mecanizadas têm adotado sistemas de gerenciamento de frota que visam de forma sistêmica garantir a disponibilidade e, consequentemente, o poder de combate da tropa.
Como balizadores desses sistemas temos o Manual de Campanha EB20-MC-10.204 - Logística, o Manual de Ensino EB60-ME-22.401 - Gestão da Manutenção e a Diretriz de Blindados do Comando Militar do Sul (CMS). Após análise desta literatura de referência, observa-se que o gerenciamento de uma frota blindada busca, de uma forma ampla, atingir quatro objetivos: gerar disponibilidade; ter eficiência nos processos logísticos; gerar indicadores e subsídios para a tomada de decisões e propiciar maior segurança às operações.
Para atingir estes objetivos é primordial que seja estabelecido um sistema de gerenciamento da frota através de uma rede que tem o seu cerne no âmbito da GU e pode ser visualizado como um corpo humano, onde se tem como cérebro a figura do gestor da frota/ E4, o coração na figura do COAL/ B Log e os braços e pernas nas figuras dos S/4 das unidades e dos Comandantes de Pelotão de Manutenção.
Após o estabelecimento do sistema é vital o levantamento de um diagnóstico pormenorizado da situação da frota (quantidade, disponibilidade, regime de utilização, etc) e de todos os componentes ligados à sua disponibilidade, fatores estes que integram a conhecida Estrela da Manutenção: pessoal especializado, infraestrutura, insumos, ferramental e documentação técnica.
Uma vez com o diagnóstico da frota levantado, o gerente já terá condições de começar a geri-la. Hoje em dia não existe um sistema uniforme de gerenciamento de frota blindada ou mecanizada no âmbito do Exército, em virtude das especificidades de cada GU, porém, existem algumas premissas e ferramentas que são de âmbito comum e essenciais a qualquer tipo de gerenciamento.
O primeiro ponto que merece destaque é o estabelecimento de um plano de gerenciamento da manutenção, pois sem ele todo o trabalho da manutenção adquire uma natureza aleatória e imprevisível, pendulando entre situações extremas de tranquilidade e estresse. É essencial que o plano tenha foco na manutenção preventiva, pois esta se mostra mais eficiente, traz maior confiabilidade ao material e tem como consequência uma redução nos custos de manutenção.
Após a elaboração deste plano, o gerente da frota se valerá de sistemas informatizados, como o SISCOFIS WEB e SisLogMnt, para acompanhar a disponibilidade, as panes existentes e as necessidades de suprimento de manutenção, para que, com base nesses dados, possa assessorar o escalão superior na tomada de decisões. Além disso, esses sistemas são costumeiramente utilizados pelos ODS para a destinação de recursos de manutenção. É importante que todos os integrantes do sistema de gerenciamento de frota enxerguem e utilizem os sistemas como ferramentas de auxílio para a tomada de decisão e que estes não tenham foco em si mesmos, sob o risco de caírem em desuso ou gerarem indicadores inverossímeis.
Outro ponto que merece uma atenção muito especial é a permanência de militares especialistas em cargos críticos. Segundo a Diretriz de Blindados do CMS, são considerados cargos críticos todos aqueles necessários às atividades de manutenção e suprimento das viaturas blindadas. Este fator merece ser pontuado em dois aspectos: a existência de militares especialistas nas OMs e o seu emprego efetivamente nas atividades logísticas. Em relação a estes aspectos, cabe aos gerentes de frota fazer gestões para viabilizar a especialização do seu pessoal, através de cursos e estágios, bem como assessorar os Cmt OMs no sentido de alocar na função logística aquele militar já especializado.
Para a realização do gerenciamento da frota é vital aos integrantes do sistema o conhecimento técnico do seu material e das legislações que o regem. Nesse contexto ressalta-se três frentes de conhecimento: o conhecimento técnico da viatura blindada e dos seus sistemas; o conhecimento dos canais técnicos de manutenção e suprimento; e o conhecimento dos contratos vigentes relativos ao material. Somente quando o gerente dominar essas três frentes ele poderá fazer um gerenciamento realmente efetivo da frota.
Ressalta-se, ainda, a importância da realização de inspeções em todos os níveis, pois estas irão, de imediato, localizar deficiências, sejam burocráticas ou mecânicas, antes que elas se agravem e possam dificultar mais ainda os trabalhos de manutenção. As vantagens das inspeções não são auferidas de modo gratuito e imediato. É importante que se adote um rigoroso, persistente e inteligente sistema de inspeções, que saiba verificar, sugerir e acertar procedimentos, pois todo e qualquer sistema depende do ser humano para que possa funcionar adequadamente, pois quando passamos a analisar os fatores causadores de indisponibilidade nos materiais percebemos que a falha técnica do material corresponde a uma parcela muito pequena, restando à dimensão humana a imensa maioria dos fatores, conforme vemos na tabela a seguir:
Conclui-se, portanto, que um sistema de gerenciamento de frota bem estruturado, com um plano de gerenciamento da manutenção associado a uma cadeia de comando atuante que consiga uma interação da dimensão humana com o correto uso do material, potencializará o resultado da estrutura montada, evitando que todo esse esforço seja diluído por inércia ou desleixo.
Realizar a manutenção para saber operar; saber operar para poder empregar; empregar corretamente para ter sucesso na missão. Manutenção é disponibilidade, e disponibilidade é PODER DE COMBATE.
Maurício Wallau Vielmo - Cap
Instrutor do CI Bld
Carlos Alexandre Geovanini dos Santos - Ten Cel
Comandante do CI Bld