A Gainey Cup é um evento bienal do exército dos EUA que se alterna com a Sullivan Cup, sendo esta uma competição entre guarnições de blindados e aquela entre seções de exploradores. Em 2023, havia 18 equipes estadunidenses e 4 estrangeiras (alemã, canadense, irlandesa e holandesa), no total de 22.
Iniciada em 2013, essa prova ocorre no Fort Moore, antigo Fort Benning (a redesignação se deu recentemente, por motivações políticas), base militar que abriga 8 brigadas e outras tantas Unidades avulsas, além do Instituto para Cooperação em Segurança do Hemisfério Ocidental (WHINSEC) e do Centro de Excelência em Manobra (McoE), onde diversos militares brasileiros do EB e do Corpo de Fuzileiros Navais da MB realizam cursos, anualmente. A Escola de Blindados do U.S. Army também é sediada ali, e é a promotora do evento.
Batizada em homenagem ao Command Sergeant Major William J. Gainey, primeiro militar a ocupar o então recém-criado cargo equivalente ao de Adjunto de Comando do Comandante do Exército, no Brasil, essa competição valoriza o preparo físico e mental das tropas de reconhecimento e segurança. O CSM Gainey galgou todas as graduações da tropa blindada de seu país, de Soldado Auxiliar do Atirador de Carro de Combate a Sargento-Mor de Comando; ele também combateu na Guerra do Iraque.
De início, as equipes estrangeiras chegam com uma semana de antecedência para adaptarem-se ao fuzil M4, de dotação do U.S. Army, incluindo sua clicagem, e realizarem exame doutrinário. Na sequência, há uma corrida de abertura dos trabalhos e uma demonstração de tiro das armas coletivas para o público interno e visitantes, a Scouts in Action, ou Exploradores em Ação, no contexto da Armor Week (Semana dos Blindados). Havia considerável presença de veteranos, familiares e entusiastas dos blindados em todos os eventos da Armor Week.
Nessa 5ª edição (em 2021 não houve, por conta da pandemia de COVID-19), a 316ª Brigada de Cavalaria, organizadora do evento, incutiu a instrução individual básica (IIB) como linha mestra da competição, de modo a resgatar as técnicas, táticas e procedimentos (TTP) das pequenas frações em atividades às quais as tropas de reconhecimento e segurança são vocacionadas.
Os reconhecimentos de eixo, área e zona foram contemplados em oficinas de progressão embarcada e a pé, vigilância noturna, exploração das Comunicações via rádio e tiro do armamento individual. Outras atividades também permearam a competição, de modo a reinstitucionalizar a crescente necessidade de resgate da IIB e das TTP, conforme se visualiza no conflito russo-ucraniano contemporâneo.
Também o próprio U.S. Army, após 20 anos de Guerra Global Contra o Terror, quando investiu em outros aspectos do treinamento militar para encarar aquele desafio em detrimento de habilidades enfatizadas na Gainey Cup, percebeu a necessidade de retomá-las em seu adestramento, como a orientação carta-terreno a pé, a identificação de drones de pequeno porte, (Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas de lançamento manual – SARP Cat 1), primeiros socorros em campanha, pista de obstáculos a pé portando fuzil, tiro da esquadra em movimento sob stress, pedido e correção de fogos de Artilharia e (des)montagem e operação de armamentos, como o lançador de granadas MK19, as metralhadoras M240 e M2 Browning, a pistola 9 mm Sig Sauer, o lançador de míssil Javelin e o próprio fuzil M4.
A constituição das equipes era de 6 indivíduos, entre tenentes, sargentos, cabos e soldados, sendo a do Real Exército dos Países Baixos campeã em 2023. A viabilidade de um time brasileiro participar de 2025 em diante depende do domínio do idioma Inglês por todos os seus integrantes, o estudo doutrinário dos EUA (segundo alguns organizadores, 4 a 5 manuais básicos já seria o suficiente) e a chegada em S-1, como os demais estrangeiros, a fim de aprender a manejar os armamentos requeridos na competição.
Os organizadores se mostraram empolgados e solícitos em receber uma delegação brasileira nas próximas edições, sendo que o espírito da Gainey Cup não é propriamente o de classificar os participantes do primeiro ao último, mas sim, nas palavras de encerramento do próprio homenageado, o Command Sergeant Major Gainey, presente na cerimônia de premiação:
“Perguntei a um soldado que estava competindo por que ele estava desapontado, e ele me falou que sua equipe estava mal classificada; então o questionei se ele havia dado o máximo de si mesmo e sua equipe também, ao que ele respondeu que sim; logo, eu lhe disse que ele e sua equipe haviam vencido, portanto.”
Filipe Rodrigues Pinheiro – Maj Cav
Instrutor do CI Bld
Daniel Bernardi Annes – Cel
Comandante do CI Bld
Referências: