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CUIDADOS COM AS MUNIÇÕES 105 mm DOS CARROS DE COMABATE

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           As principais munições 105 mm empregadas pela VBCCC Leopard 1 A5 BR são as de energia cinética (APFSDS-T), as de energia química (HESH-T e HEAT-T) e as de exercício (FLASH, TP-T e TPDS-T), de acordo com o Boletim Técnico Nr 03/2010. Cada munição tem seu emprego definido, seu comportamento balístico característico, modo de armazenamento e manuseio próprio para que a composição química de seus componentes não sofram variações que possam prejudicar o desempenho no tiro ou oferecer riscos à segurança.
           Assim, para que se tenha o emprego correto dessas munições, faz-se necessária a observação de aspectos relevantes como a realização rotineira de testes em seus elementos, a análise do comportamento balístico (curva balística) e os efeitos sobre o alvo, entre outros.          Em geral, essas munições são compostas por estojo, estopilha e/ou ignitor, propelente sólido e projétil, com ou sem carga explosiva. A manutenção das características de cada componente aliada a procedimentos cautelosos é primordial para a eficiência operacional e a prevenção de acidentes.
            O estojo é o responsável pela junção das partes componentes da munição, facilitando o seu transporte e posterior descarte. Além disso, atenua os efeitos nos demais elementos quando a câmara está aquecida e/ou ocorrem manuseios indevidos na munição. A estopilha ou ignitor tem por finalidade iniciar a queima do propelente, podendo ser acionado eletricamente ou mecanicamente. A interação entre ambos os componentes é fundamental, já que variações, além das propriedades originais, modificam substancialmente a balística.            Os propelentes sólidos são compostos químicos, com forma e estrutura definida, que produzem calor e gases em alta pressão em virtude do seu processo de combustão. O propelente de base dupla, por exemplo, contém elementos químicos instáveis, como a nitrocelulose e a nitroglicerina, capazes de sofrerem combustão na ausência de qualquer outro material. Isso ocorre por ambos possuírem, em suas composições, matéria química rica em oxidantes que sustentam a combustão.
           Além dos principais componentes, pequenas parcelas do propelente são aditivos inseridos em sua estrutura, visando os seguintes propósitos:
           a) Acelerar ou desacelerar a queima (catálise);
           b) Aumentar a estabilidade química para evitar a deterioração durante o tempo de armazenamento;
        c) Controlar a variação das propriedades durante o processo de fabricação ou armazenamento do propelente (higroscopia);
           d) Aumentar a rigidez e diminuir a deformação das estruturas químicas;
           e) Minimizar a sensibilidade à variação de temperatura.
           Baseado nas informações básicas mencionadas anteriormente, cresce de importância os cuidados com o manuseio desses artefatos. Estresses mecânicos causados pelo transporte ou por repetidas variações de temperatura podem ter resultados negativos nas propriedades do propelente com o passar do tempo. A ocorrência desses efeitos pode ser ligada ao surgimento de fissuras ou rachaduras da superfície dos grãos do propelente.
          Por meio de análises laboratoriais, as primeiras anormalidades aparentes são: diferença da expansão térmica entre o grânulo do propelente e o ignitor e modificação na estrutura do estojo. Em temperaturas baixas, mudanças físicas fizeram com que o propelente se tornasse mais duro e quebradiço, ficando mais suscetível a quebras quando submetido a choques mecânicos. À medida que a temperatura se eleva, estando o propelente nessa situação de quebradiço, suas estruturas se expandem ficando passíveis de nova quebra. Assim, a ocorrência de repetidas expansões e contrações, com mudanças cíclicas de temperatura, podem causar deterioração do material, tornando-o mais instável.
           Tais variações prejudicam os principais fatores relacionados à balística. A menor mudança no tempo de queima do propelente provoca um pico de pressão diferente do previsto, afetando a velocidade inicial do projétil e consequente efeito sobre a expectativa de impacto. Ademais, após uma sequência de disparos, há a probabilidade de queima incompleta da carga propelente, gerando maior quantidade de resíduos, o que ocasiona maior desgaste da alma do canhão e reduz a sua vida útil.
           Para o desenvolvimento das habilidades dos atiradores, essas alterações produzem consequências desfavoráveis à técnica de tiro, tornando o treinamento pouco proveitoso na medida em que erros não inerentes à técnica individual se tornam mais evidentes, fomentando o descrédito do material utilizado.
           Além dos óbices operacionais, em virtude das alterações nos compostos químicos, há o risco à segurança de quem o manuseia constantemente. Apesar da presença de elementos que mantém as estruturas de ligação na composição das cargas, a manipulação desnecessária acarreta sua deterioração, aumentando o risco, principalmente, quando se trata de munições de energia química.
           Para evitar ou atenuar os efeitos negativos nos quesitos operacional e de segurança, alguns cuidados práticos devem ser tomados. O Manual Técnico T9-1903 aborda, em especial no capítulo quatro, ações de armazenamento e manuseio. Outras fontes de consulta advertem sobre o contato ou exposição a qualquer tipo de material explosivo ser o menor possível.
           O transporte desses materiais deve ser meticuloso, evitando choques bruscos ou descuidos, estando todos os envolvidos passivos de sofrerem acidentes. Ainda, o mesmo deve ser planejado com o mínimo de exposição ao tempo, à umidade e aos efeitos de raios solares, direta ou indiretamente.
           Quanto ao acondicionamento, a escolha de um local adequado fica condicionada especialmente a requisitos referentes a espaço, à umidade e à temperatura local, com a finalidade de obter a máxima segurança possível, com mínima variação das propriedades dos componentes.
           Com isso, recomenda-se o uso de materiais com compostos explosivos apenas em situações que exijam o seu pleno emprego. Em outras circunstâncias, como demonstrações ou exposições, a sua utilização deve ser desencorajada, podendo ser substituído por artefatos inertes.
           Por fim, a imprevisibilidade comportamental das estruturas químicas impõe o fiel cumprimento do previsto em diretrizes e regulamentos técnicos, mitigando a ocorrência de situações indesejadas. Nada justifica a perda da vida de um soldado em tempo de paz.

AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!

 
Felipe Soares Amaral – Cap
Instrutor do CI Bld
Ádamo Luiz Colombo da Silveira – Cel
Comandante do Centro de Instrução de Blindados.

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