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Centenário da Batalha de Cambrai

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           Em 2017 se comemora o centenário da Batalha de Cambrai, um dos principais confrontos com a utilização de blindados durante a Primeira Guerra Mundial (1ª GM), que se estendeu do dia 20 de novembro ao dia 7 de dezembro de 1917.
           A batalha foi parte da campanha britânica para destruir um importante ponto de abastecimento alemão protegido pela Linha Hindelburg, situada no passo norte da Calais (Nord-Pas-de-Calais). A estratégia inicial seria um ataque surpresa à linha de trincheiras alemã com artilharia e infantaria. Contudo, um oficial britânico da Royal Tanks Corps, J.C.Fuller, queria uma oportunidade para utilizar seus tanks como unidade de ataque e não apoio. O comando do 3º Exército Britânico decidiu, então, incorporar os tanks Mark IV de Fuller ao ataque à Calais.
           Como a posição alemã era, até então, relativamente tranquila, houve tempo suficiente para prepará-la com fortificações e arame farpado, proporcionando muito boas defesas. A Linha Hindelburg tinha 64 km de extensão e grande profundidade. Foi uma das melhores posições defensivas já construídas e era considerada praticamente intransponível.
           O ataque britânico se iniciou na manhã do dia 20 de novembro, com mais de 1000 peças de artilharia disparando sobre os alemães. Os fogos proporcionaram a cobertura para o avanço de 474 tanks, seguidos da infantaria. Sob o comando do General Haig, os carros atravessaram o campo de batalha e os alemães assistiram, impotentes, o arame farpado da Linha Hindelburg ser esmagado pelas lagartas.
           O sucesso inicial do ataque foi restrito. Atrás da linha, o General alemão Von Der Marwitz ordenou que fossem cavadas trincheiras profundas e com mais de 4 metros de largura. Esses obstáculos detiveram o avanço inglês.

           Para solucionar o problema, foram lançados feixes de madeira, preenchendo as trincheiras e permitindo que os tanks cruzassem com relativa facilidade. A Linha Hindelburg havia sido transposta, surpreendendo até mesmo os aliados. Em contrapartida, este sucesso acarretou problemas logísticos às tropas, uma vez que os britânicos não poderiam supri-las além da linha. O grande avanço causou também problemas nas comunicações entre o front e as posições mais à retaguarda.
           Depois de superada a Linha Hindelburg, o próximo passo era capturar Cambrai. Para tanto, os britânicos se dividiram em duas frentes, uma ao norte, em direção a Bourlon e outra a leste, em direção à Marcoing/Masnieres. O objetivo era conquistar as principais pontes e, com isso, abrir caminho para a cavalaria atacar Cambrai.
          Na frente Marcoing/Masnieres, as pontes estratégicas foram capturadas no início da tarde, mas quando o primeiro tank tentou atravessá-la, ela cedeu devido ao excessivo peso. O Gen Von Der Marwitz aproveitou a oportunidade para, do outro lado do canal, posicionar metralhadoras e impedir que a cavalaria britânica avançasse nesta frente.
          O avanço lento dos ingleses possibilitou também a Von Der Marwitz tempo suficiente para requisitar apoio e arma extras. Munidos de armamento de calibre 77 mm, capazes de perfurar a blindagem dos Mark IV, os alemães posicionaram suas armas em cima de caminhões e carretas, destruindo os blindados à medida em que progrediam colina acima.
           A despeito da massiva perda de tanks, o primeiro dia de combate havia sido um sucesso para os britânicos. Mesmo com a perda de 4000 homens e 179 carros, conseguiram avançar mais de 6 km dentro das linhas inimigas, capturando 8000 inimigos e chegando à apenas 3 km de Cambrai. Para os padrões da época, representava uma conquista de terreno impressionante.

          No dia seguinte, Von Der Marwitz reuniu todas as tropas disponíveis e armamento antitanque existente em Cambrai e determinou que defendessem Bourlon. A balança começou a mudar em favor dos alemães. Os britânicos estavam exaustos, sem comunicações e sem o elemento surpresa.
          No dia 30 de novembro, os alemães lançaram um poderoso contra-ataque para fazer os britânicos recuarem, tentando restabelecer a Linha Hindelburg. Para isso utilizaram aviões, gás venenoso, explosivos e a tropa de assalto Sturmtruppen. Infiltrando-se na retaguarda inglesa, a tropa de assalto alemã causou grande confusão aos britânicos e com isso começou a recuperar o terreno perdido. Nesse momento, o Gen Haig contava apenas com 67 tanks. A solução encontrada foi realizar um contra-ataque com a cavalaria desmontada, atuando como infantaria. O plano ousado de Haig funcionou e retardou a reconquista alemã mas, ciente de que tinha esgotado todos os recursos e receoso de perder toda a vantagem obtida, Haig determinou o retraimento das tropas.
          No dia 7 de dezembro, a retirada britânica foi completada. Os ingleses mantiveram 4 km do território conquistado. Naquela noite, uma tempestade de neve começou a cair e forçou ambos os lados a retroceder, o inverno havia chegado. A tempestade transformou o campo de batalha em um verdadeiro pântano. A lama, o frio e a neve possibilitou que alemães e ingleses se retirassem.
          Embora Cambrai permanecesse em posse dos alemães, os combates marcaram o início de sua derrota. O rompimento da Linha Hindelburg foi um duro golpe na estratégia alemã e mostrou aos britânicos que uma ação daquela natureza poderia ser novamente realizada e em escala muito maior. Ficou claro que até mesmo a posição de trincheiras e arame farpado mais bem preparada, podia ser ultrapassada combinando-se um ataque em massa de carros de combate com infantaria e artilharia.
          O sucesso obtido pelo Gen Haig poderia não ter sido alcançado sem o emprego dos tanks. Estas poderosas máquinas mais uma vez provaram seu valor no campo de batalha e mudaram não só o rumo da 1ª GM, mas também a face de todas as guerras dali em diante.



AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!

 

Daniel Longhi Canéppele – Maj
Instrutor do CI Bld
Ádamo Luiz Colombo da Silveira – Cel
Comandante do Centro de Instrução de Blindados

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