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Emprego da artilharia em áreas edificadas com a utilização de munições especiais

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Emprego da artilharia em áreas edificadas com a utilização de munições especiais

 

Figura 1: Munição 155mm com sistema de guiamento
Fonte: https://www.armytimes.com
 

De acordo com o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos, da metade do século passado até o ano de 2011, a população que vive nos centros urbanos cresceu cerca de cinco vezes. Espera-se que em 2030 cerca de 75% da população mundial esteja vivendo fora da área rural.

Diante dessa nova realidade, é necessário que cada vez mais as Forças Armadas (FA) estejam aptas a realizar operações militares em ambientes urbanos, onde o fator da decisão ''Considerações Civis'' será de suma importância. Não se admite nos dias de hoje que algum dano causado a população civil seja considerado um mero efeito colateral das ações militares.

Diante disso, o emprego da artilharia de campanha deve ser planejado minuciosamente, por meio do emprego de munições especiais, bem como armamentos capazes de realizar um tiro mais preciso, com intuito de atingir um ponto específico, como um prédio ou qualquer instalação utilizada para fins militares.

O ambiente urbano impõe inúmeras limitações para todos subsistemas de artilharia, como Observação e Linha de Fogo. Quanto à Observação, nem sempre o elemento de manobra que estiver engajado dentro da localidade que, por muitas vezes, devido ao alto grau de descentralização, será nível pelotão, contará com um artilheiro para realizar a solicitação e condução do tiro. Dentro desse escopo é fundamental que oficiais e sargentos dos Elementos de Manobra (Elm Man) tenham conhecimento técnico para realizar a solicitação e condução de fogos de artilharia, haja vista que é imprescindível contar com o apoio de fogo de artilharia em todas as fases da operação.

No subsistema Linha de Fogo, o emprego de munições inteligentes se faz primordial. Aspectos como a alta densidade demográfica, construções protegidas por leis internacionais, risco de fratricídio e a produção de escombros, que favoreceria o defensor, exigem a adoção de medidas de coordenação e o uso de munições especiais. O uso dessas munições visa proteger determinados locais como monumentos históricos, igrejas e instalações de serviços essenciais à população, proporcionando maior precisão e eficácia dos tiros, embora com considerável redução do volume de fogo no interior das cidades.

Baseado nesses aspectos, o presente artigo desenvolveu-se com a intenção de verificar quais tipos de munições, presentes nos manuais da artilharia de campanha brasileira, possuem condições de realizar o apoio de fogo em um contexto de combate de localidade, bem como verificar quais munições disponíveis no mercado internacional poderiam ser adquiridas, diante da necessidade de se apoiar uma operação em área edificada.

Dentro desse contexto, foi verificado que a maioria das munições previstas nos manuais de artilharia do Exército Brasileiro (EB), como a Granada AE M 107, Granada HE M 692 ADAM - L, Granada HE M 731 ADAM – S e Granada HE M 449 ICM poderiam ser preferencialmente usadas na 1ª fase de um ataque a uma área edificada (isolamento), onde as missões de tiro não necessitarão de uma precisão cirúrgica, pois terão objetivos mais amplos, como bloqueio de vias de entrada e saída da localidade considerada, impedindo a chegada de reforços e suprimentos para os elementos isolados, bem como impedindo o retraimento destes.

Outro importante objetivo durante essa fase da operação é cegar os Postos de Observação (PO) inimigos, missão que pode ser realizada com utilização de munições fumígenas comuns, de menor custo, como a Granada HC M 116, M 116B1 e HC M 116A1, todas de hexacloretano, caracterizadas por não causar baixas, portanto, podendo ser empregadas próximo de locais com grande concentração de pessoal.

Já na 2ª fase (conquista de uma área de apoio na periferia da localidade) e 3ª fase (progressão no interior da localidade) do combate de localidade, torna-se de grande importância a precisão cirúrgica dos tiros de artilharia, sendo de grande valia a utilização de munições inteligentes, como as munições Guiada a Laser M712 Copperhead e a HE M 898 SADARM já prevista nos manuais brasileiros. Essas munições possuem uma grande capacidade de destruição de alvos de pequeno porte, causando mínimo de danos colaterais, evitando a destruição de instalações próximas ao objetivo e que não se caracterizam como alvo militar, como por exemplo, uma igreja ou uma rodoviária da cidade.

 

Figura 2: Munição M712 Copperhead
Fonte: http://www.globalsecurity.org
 

As granadas acima citadas estão previstas nos manuais brasileiros e podem ser utilizadas pelos atuais materiais de artilharia disponíveis no EB, especificamente a VBC OAP M109 A3, necessitando apenas da compra da referida granada e capacitação do fator humano que irá empregá-la. Com a atual aquisição da VBC OAP M109 A5+BR, a artilharia brasileira também se capacita para utilizar a munição inteligente M 982 Excalibur que possui um sistema de guiamento por GPS e navegação inercial, tornando-a uma granada de grande precisão, característica fundamental na neutralização de alvos pontuais, dirimindo os efeitos colaterais, fator essencial para a fase de investimento no combate urbano.

Além das munições já citadas, destaca-se também a munição BONUS 155mm de origem francesa, que pode ser utilizada com o obuseiro autopropulsado sobre rodas CAESAR 155mm, apto a engajar alvos que exijam elevada precisão do tiro. Salienta-se que todas essas munições possuem um elevado custo financeiro para sua utilização.

 

Figura 3: Munição BONUS
Fonte: NEXTER
 

Para opções de custo relativamente menor, poderia ser empregada a Munição (Sistema) SPACIDO, que por ser modular, pode ser adaptada a qualquer material de artilharia de campanha em uso pelo EB, bem como a espoleta XM 1156 PGK, que acoplada às granadas convencionais de calibre 105 e 155mm já existentes na artilharia brasileira, lhe concedem características semelhantes à Gr Excalibur, proporcionando maior precisão aos fogos de artilharia no combate de localidade.

Por fim, no intuito de preservar o máximo de vidas civis durante um combate urbano, iniciou-se estudos para o desenvolvimento de munições de artilharia não letais, sendo utilizada já nos dias de hoje o Armamento LRAD (Long Range Acoustic Device), dispositivo que emite um intenso ruído de alta frequência semelhante ao alarme de detectores de fumaça, causando dores auriculares, que tiram a capacidade de combate do inimigo, porém sem causar mortes na população civil. Apesar de não ser considerado um armamento tipicamente de artilharia, seu emprego já foi testado em combates no Iraque, com diferentes capacidades.

 

Figura 4: NEXTER
Fonte: CA - Leste
 

Nos EUA está se desenvolvendo a primeira munição de artilharia não letal. Sendo conhecida por XM1063, ao ser disparada e chegar a uma altura pré-determinada (na trajetória descendente), liberará 152 pequenos pacotes que, ao caírem no chão, expelirão um spray com agentes controladores de multidão.

 

Figura 4: Munição não letal XM1063
Fonte: https://www.wired.com
 

Diante do exposto, conclui-se que o uso de munições especiais já é uma realidade no combate urbano e a artilharia brasileira está apta para empregá-las, bastando apenas a aquisição dessas munições inteligentes para capacitação e treinamento dos militares.

 

 

 

AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!
 
 
 

Laércio Leal Cielo – Cap
Instrutor do CI Bld
Carlos Alexandre Geovanini dos Santos - Ten Cel
Comandante do CI Bld
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