Ir direto para menu de acessibilidade.

GTranslate

Portuguese English Spanish

Opções de acessibilidade

Página inicial > Periódicos > Escotilha do Comandante > Experiências no Curso de Comandante de Unidade de Infantaria Blindada no Exército Alemão
Início do conteúdo da página

Experiências no Curso de Comandante de Unidade de Infantaria Blindada no Exército Alemão

Acessos: 917

Experiências no Curso de Comandante de Unidade de Infantaria Blindada no Exército Alemão

 

 

Figura 1: Localização das Organizações Militares do Exército Alemão. Em destaque, o 112 PzGrenBtl.
Fonte: O autor
 

No período de outubro de 2017 a junho de 2018 tive a oportunidade de realizar o Curso de Comandante de Unidade de Infantaria Blindada no Exército Alemão.

O curso possui duas fases distintas, sendo que a primeira consiste em um estágio de idioma, com duração de 6 meses, no Centro de Estudos de Idiomas (Bundessprachenamt). A interação diária com oficiais oriundos de países e culturas completamente distintas é enriquecedora. Militares provenientes do Mali e do Iraque, especialmente do Curdistão, possuíam experiência recente em conflitos intraestatais; enquanto oficiais da Coreia do Sul se preparavam para um curso de Ciência Política, com o intuito de compreender o histórico processo de reunificação alemã.

A 2ª fase transcorreu em um formato de estágio no 112 Panzergrenadierbataillon (112 PzGrenBtl), situado na cidade de Regen, bem próximo à fronteira com a República Tcheca e na região da Baviera. Semanalmente, acompanhei as instruções de alguma das subunidades componentes do 112 PzGrenBtl, com prioridade para os exercícios com emprego da viatura blindada PUMA.

Estruturalmente, ressalta-se a maior fragmentação do exército alemão entre as armas. “Entre” a Infantaria e a Cavalaria convencionais, existem “armas” em igual nível, como a Infantaria Blindada e a Cavalaria de Reconhecimento, sem que haja mobilidade de pessoal entre elas. Dessa forma, foi observada a grande especialização e motivação do pessoal quanto à atividade desempenhada.

Internamente, o 112 PzGrenBtl se assemelha com a estrutura existente a um Batalhão de Infantaria Blindada brasileiro: 1 Subunidade (SU) de Apoio ao Comando e 3 SU Operacionais. O 112 PzGrenBtl também dispunha de uma SU isolada, localizada em Cham, para formação de recrutas. Entretanto, algumas diferenças chamaram a atenção:

 

Diferenças

Avaliação Pessoal

Os militares que trabalham nas Seções do Estado-Maior não integram a SU Cmdo e Ap, fazem parte de um Pelotão de Comando, chefiado pelo Adjunto do S3 e diretamente subordinado ao Comandante do Batalhão.

A SU Cmdo e Ap não se sobrecarrega com atividades administrativas e mantém foco no adestramento e suporte operacional às demais SU.

A Seção de Simuladores, exclusiva da OM, possui moderna estrutura e módulos para adestramento individual e coletivo para todos os sistemas de armas. É subordinada à SU Cmdo e Ap é mobiliada por uma equipe especializada – aproximadamente 10 homens.

Anteriormente existia apenas 1 militar responsável pela instalação e as instruções eram coordenadas pela própria SU Operacional. Porém, com o incremento tecnológico dos equipamentos, eles observaram a necessidade de manter um efetivo fixo na Seção.

Pelotão de Caçadores se constitui uma fração própria – ainda integrante de uma SU operacional, com efetivo aproximado de 30 homens e adestramento permanente ao longo de todo o ano. Atuam em Apoio Direto às SU em todos os exercícios.

Os alemães atribuem alto grau de relevância aos armamentos anticarros. Nesse sentido, o emprego de caçadores é entendido como uma ferramenta essencial para identificar e neutralizar ameaças às forças blindadas.

O emprego de um Sargento como assessor direto do Cmt SU. O “Spitze” é, geralmente, o Sgt mais antigo da SU e é responsável por coordenar e supervisionar as instruções, inclusive as conduzidas por oficiais.

Além disso, possui grande participação no planejamento tático dos exercícios e operações.

O emprego “tático” do Sgt no final da carreira estimula as demais praças a manter o autoaperfeiçoamento contínuo no que se refere ao conhecimento operacional.

Observou-se também a elevada experiência dos sargentos em operações reais, o que ampliava sua liderança junto à tropa.

 

A Viatura Blindada de Combate de Fuzileiros PUMA se constitui, inegavelmente, no maior potencial da tropa de infantaria blindada alemã. Sucessor do consolidado Marder, o novo carro é o estado da arte em blindados para essa natureza de tropa. Entretanto, na opinião dos militares alemães, ainda se encontra em fase de testes e apresenta muitos problemas técnicos. Como ilustração, durante o exercício que acompanhei no Campo de Instrução de Grafenwöhr, das mais de 70 viaturas existentes no 112 PzGrenBtl apenas 4 puderam executar disparos, haja vista que o funcionamento do carro e de seu armamento são completamente dependente de sistemas computadorizados e, assim, na ocorrência de qualquer problema nos softwares as viaturas ficavam indisponíveis.

 

Figura 2: VBC Fz Puma
Fonte: O autor
 

Como aspectos positivos do novo blindado se destacam a precisão dos tiros, a proteção contra IED e a munição Air Burst (ABM). Esta última se caracteriza pela fragmentação da munição (30 mm) em diferentes ângulos e direções, em distância determinada a partir do próprio carro ou anterior ao alvo. Assim, o sistema ABM se constitui em uma excelente ferramenta contra tropas desembarcadas e capaz de neutralizar optrônicos e sensores de outras viaturas. Quanto à precisão, pude observar um aproveitamento do canhão 30mm superior a 90% em alvos estáticos a 2.800m e em alvos móveis a 2.000m.

 

Figura 2: Torre da VBC Fuz
Fonte: O autor
 

O adestramento da tropa se desenvolve com a alternância anual entre 2 tipos de operações principais: Ataque e Retraimento sob pressão. É dado grande enfoque no combate com transposição de obstáculos, tendo em vista a experiência que eles tiveram no Afeganistão.

O PzGrenBtl foi uma das Unidades selecionadas para realizar o teste do projeto de modernização dos equipamentos individuais (Infanterist der Zukunft – IdZ). A dotação de equipamentos disponíveis era suficiente para 1 Pelotão e a maior evolução se concentrava na consciência situacional. Os militares alemães observavam como aspectos negativos o peso excessivo da bateria (20Kg, acoplada nas costas do colete balístico) e do excesso de informações, que acabava por distrair os militares do front.

Ao final do curso, tive a oportunidade de realizar um estágio cultural sobre o espírito militar alemão, especialmente sobre os antecedentes da 2ª Guerra Mundial e os impactos desse conflito na sociedade alemã. Assim, realizei uma visita ao Campo de Concentração de Dachau e a Museus que tratavam sobre o Nazismo e as Guerras Mundiais. Ressalta-se que parcela da sociedade alemã possui ressentimentos sobre esse período, com graves reflexos para o Exército Alemão.

Por fim, destaco que a oportunidade de conhecer a rotina de uma Organização Militar de referência na Bundeswehr permitiu ampliar a consciência crítica sobre nossa Força Terrestre. Apesar de nossas restrições materiais, retornei com a convicção da qualidade de nossa formação pessoal e da nossa capacidade de solucionar desafios.

 

 

AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!
 
 
 

Henrique de Oliveira Mendonça– Maj
Instrutor do CI Bld
Carlos Alexandre Geovanini dos Santos - Ten Cel
Comandante do CI Bld
registrado em:
Fim do conteúdo da página