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Os canhões da Cavalaria Mecanizada

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Figura 1: Cascavel disparando seu canhão de 90 mm.
Fonte: Defesanet.com
 

O emprego de blindados durante a Primeira Guerra Mundial despertou, nos exércitos modernos, o interesse pela criação de unidades de infantaria e cavalaria utilizando meios mecanizados e blindados, sobre rodas e sobre lagartas.

No Brasil, a criação da Companhia de Carros de Assalto em 1921 marcou a gênese da tropa blindada brasileira. A adoção dos Renault FT-17, especialmente os seis carros da versão com torre Berliet e canhão Puteaux 37 mm, inseriu no Exército Brasileiro o conceito de canhões embarcados.

Figura 2: FT-17 “Forte Coimbra” com canhão 37 mm.
Fonte: CI Bld
 

À época, seu emprego tinha como objetivo apenas o apoio de fogo à infantaria a pé, inexistindo a ideia de manobrar, como cavalaria, com os blindados. A companhia era considerada uma tropa independente, subordinada à 1ª Divisão de Exército, no Rio de Janeiro.

Em 1938, fruto de experiências de conflitos na África e na Espanha, o EB adquiriu as viaturas Fiat Ansaldo CV-3 (Carro Veloce) e criou o Esquadrão de Autometralhadoras. Apesar de não ser dotado de um canhão, mas de metralhadoras Breda de 13,2 mm ou Madsen de 7 mm, teve sua grande importância por ter sido a primeira unidade mecanizada de cavalaria do Exército Brasileiro.

Figura 3: CV-3 com metralhadora Breda de 13,2 mm em primeiro plano.
Fonte: CI Bld
 

A eclosão da Segunda Guerra Mundial e o consequente alinhamento do EB aos países aliados permitiu a assinatura do acordo Lend-lease entre o Brasil e os EUA. Essa aproximação possibilitou o recebimento da primeira viatura blindada sobre rodas do Exército, o T17 Deerhound. Fruto do acordo, foram entregues ao Brasil 54 viaturas desse modelo, tendo um canhão de 37 mm como armamento principal.

Figura 4: T17 Deerhound do 2º R Rec Mec
Fonte: CI Bld
 

Apesar do pioneirismo do T17 Deerhound no Exército, outro blindado sobre rodas tornou-se icônico na Cavalaria Mecanizada.

O alinhamento doutrinário com os Aliados e a declaração de guerra do Brasil contra o Eixo demandou a formação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para combater na Itália. Nesse contexto, o 1º Esquadrão de Reconhecimento da FEB foi dotado de viaturas americanas para emprego em solo europeu.

Dentre esses veículos, destacaram-se as viaturas blindadas sobre rodas M8 Greyhound, dotadas de um canhão de 37 mm.

Figura 5: O 1º Esqd Rec da FEB em Montese.
Fonte: Exército Brasileiro
 

O M8 destacou-se em combate pela grande mobilidade e manobrabilidade, servindo de base para os projetos nacionais de Viaturas Blindadas de Reconhecimento (VBR).

A partir de 1967, o Parque Regional de Motomecanização da 2ª Região Militar (PqRMM/2), em São Paulo, iniciou os trabalhos de recuperação dos M8. Ao mesmo tempo, um grupo de trabalho do Exército projetou e começou a construir o primeiro protótipo da Viatura Blindada Brasileira (VBB-1), que utilizou a torre do T17, com canhão de 37 mm. Fato semelhante ocorreu com a versão seguinte, a Viatura Blindada sobre Rodas-2 e com o Carro de Reconhecimento sobre Rodas (CRR), que utilizavam canhões de 37 mm.

Figura 6: O CRR com canhão 37 mm em testes.
Fonte: CI Bld
 

Em 1975, a partir dos protótipos produzidos, a ENGESA – Engenheiros Especializados S/A assumiu o processo fabril e desenvolveu a Viatura Blindada de Reconhecimento EE-9 Cascavel, ainda com canhão 37 mm. O modelo ficou famoso no EB com a alcunha de “Cascavel magro”. Aproveitavam-se as torres com canhões 37 mm dos antigos M8 e de algumas viaturas M3 Stuart adaptadas ao Cascavel.

A adoção de canhão mais potente sobre a plataforma da VBR EE-9 Cascavel só aconteceu a partir das encomendas estrangeiras, quando foi dotado do canhão francês 62 F1 de 90 mm da empresa Sofma, o que gerou a versão EE-9 Mk-II.

Figura 7: O EE-9 com canhão francês 90 mm.
Fonte: CI Bld
 

Mais tarde, a ENGESA passou a produzir, sob licença, a torre Cockerill com canhão de 90 mm, denominado EC-90.

O sucesso do emprego dos canhões de calibre 90 mm pelos líbios na Guerra Líbia-Egito de 1977 frente aos carros de combate egípcios e, posteriormente, no Chade, incentivaram o Exército Brasileiro a substituir os antigos canhões 37 mm dos EE-9 Mk-I pelos modelos EC-90 em toda a frota. Com isso, as VBR da Cavalaria Mecanizada (Cav Mec) consolidaram o canhão de 90 mm como padrão para seus pelotões.

Figura 8: O EE-9 com canhão nacional EC-90 de 90 mm.
Fonte: Exército Brasileiro/12º Esqd C Mec
 

A Cavalaria Mecanizada

De acordo com o manual A Cavalaria nas Operações (EB70-MC-10.222), a Cav Mec cumpre missões que exigem grande mobilidade e relativa potência de fogo e, fruto dessas capacidades, pode atuar em largas frentes e grandes profundidades. Sua organização e meios previstos lhe entrega as características necessárias para realizar missões de reconhecimento (Rec) e, principalmente, operações de segurança (Seg). Ainda, em função desse seu relativo poder de combate, pode realizar, também, operações ofensivas e defensivas limitadas.

No contexto das operações ofensivas, a Brigada de Cavalaria Mecanizada (Bda C Mec) realiza ações altamente móveis, enquanto, na defensiva, pode participar das:

“ações dinâmicas da defesa, atuar como força de fixação, conduzir movimentos retrógrados e ser empregada como economia de meios.”

O Regimento de Cavalaria Mecanizado (RC Mec), unidade orgânica da Bda C Mec, tem como algumas de suas possibilidades:

“a) executar operações de segurança;

b) realizar qualquer tipo de reconhecimento em largas frentes e grandes profundidades; (...)

k) organizar seus elementos de manobra em estruturas operativas provisórias (SU provisórias) para atender peculiaridades de determinada missão que lhe for atribuída ou para fazer face às situações específicas do combate; e

l) ser empregado como elemento de economia de meios.”

O manual de campanha Doutrina Militar Terrestre (EB20-MF-10.102) define a economia de meios como o:

“uso econômico das forças e pela distribuição e emprego judiciosos dos meios disponíveis para a obtenção do esforço máximo nos locais e ocasiões decisivos.”

Nesse ínterim, as unidades de Cavalaria Mecanizadas cumprem missões que, numa situação ideal de disponibilidade de meios blindados, seriam realizadas por Brigadas Blindadas, com viaturas sobre lagartas.

Em artigo da Revista Military Review, o Cel Alex Alexandre de Mesquita trata da Bda C Mec no contexto da transformação da Doutrina Militar Terrestres e defende que a estrutura dessa brigada alinha-se aos princípios do FAMES (Flexibilidade, Adaptabilidade, Modularidade, Elasticidade e Sustentabilidade). De acordo com o autor, apesar de ter suas origens no período da Guerra Fria, a atual estrutura das Bda C Mec entrega as características necessárias às tropas de um exército da Era do Conhecimento, caracterizadas pelo acrônimo FAMES. Se por um lado a estrutura organizacional da brigada adequa-se ao combate moderno, especialmente pela modularidade e flexibilidade, por outro lhe falta atualização no material de emprego militar.

Programa Forças Blindadas

O Programa Forças Blindadas, estabelecido pelo EB como um dos Programas Estratégicos do Exército, contempla a modernização dos meios blindados sobre rodas e sobre lagartas.

Como projetos dentro do programa, estão considerados: a modernização da VBR Cascavel, a obtenção da Viatura Blindada de Combate de Cavalaria (VBC Cav), a modernização do Carro de Combate (CC) Leopard 1A5 BR, a obtenção de um novo carro de combate e a obtenção de uma Viatura Blindada de Combate de Fuzileiros (VBC Fuz).

O processo de obtenção da VBC Cav, que prevê a aquisição de uma plataforma de combate sobre rodas com canhão 105 ou 120 mm, a fim de dotar as Seções VBR dos pelotões de cavalaria mecanizados (Pel C Mec) tem como objetivo agregar novas capacidades à tradicional viatura da Cav Mec. Paralelamente à aquisição, o EB conduz o processo de modernização das VBR Cascavel remanescentes, que não serão substituídas pela VBC Cav.

A opção pelos canhões de grande calibre nos requisitos da VBC Cav, como o 105 ou 120 mm, visa a permitir que os Pel C Mec possam cumprir as suas missões em melhores condições, além de possibilitar que as Bda C Mec tenham a potência de fogo necessária para atuar como elemento de economia de meios no âmbito da manobra da Divisão de Exército ou da Força Terrestre Componente (FTC).

Canhões de grande calibre

As missões da Cav Mec na ação retardadora e na segurança exigem que os seus pelotões forcem o inimigo a desdobrar-se o mais longe possível das posições de combate ocupadas pelos esquadrões de cavalaria, o que exige armamento de grande alcance e, em um segundo momento, grande poder destrutivo.

Os canhões das viaturas, sejam de 105 mm ou 120 mm, incrementam ambas as características quando comparados ao atual canhão de 90 mm do Cascavel.

Calibre Alcance Máximo Expectativa de impacto no 1º tiro
90 mm 2.000 m 800 m
105 mm (DM63) 4.000 m 2.500 m
120 mm (DM53) 5.000 m 3.000 m
Tabela 1. Comparativo de calibres.
Fonte: o Autor
 

Exercícios táticos em simulação virtual conduzidos pelo CI Bld ao longo dos últimos 10 anos têm demonstrado que, nas missões de segurança e nos movimentos retrógrados, quando os Pel C Mec ocupam posições de bloqueio, o poder de fogo das VBR (e futuras VBC Cav) é o principal atuador que permite o cumprimento dessa missão da Cav Mec.

Conclui-se, parcialmente, que os canhões de grande calibre são os armamentos do pelotão de cavalaria mecanizada que, em última análise, forçam o inimigo a se desdobrar o mais longe possível.

Figura 9: A VBR Cascavel em operações defensivas.
Fonte: Exército Brasileiro/6º Esqd C Mec
 

Por que não utilizar um canhão médio?

Os canhões médios se caracterizam por serem de menor calibre e maior cadência de tiro quando comparados aos canhões dos CC. Uma classificação frequentemente utilizada pelas empresas fabricantes de munição afirma que os calibres médios englobam munições a partir de 12,7 mm (.50) até 57 mm. Atualmente, os canhões médios situam-se, basicamente, entre 20 mm e 50 mm.

Apesar de configurar-se como tendência mundial nas VBC Fuz e em algumas VBR, os canhões médios possuem reduzida capacidade de penetração em blindagem, especialmente quando comparados aos canhões de 105 e 120 mm. Seu alcance e, principalmente, a expectativa de impacto no primeiro tiro também são reduzidas em relação aos canhões de maior calibre.

Dessa forma, esse tipo de armamento é empregado, primordialmente, como apoio de fogo direto à infantaria desembarcada e também como armamento de autodefesa de tropas especializadas em reconhecimento.

Apesar de possuírem alcance maior do que o canhão 90 mm do Cascavel, sua utilização em alcance máximo reduz sobremaneira a eficácia dos disparos, seja pela perda da capacidade de penetração em blindagem, seja pela dispersão dos impactos no alvo.

Calibre Alcance Máximo Expectativa de impacto no 1º tiro
30 mm AP 3.000 m 1.500 m
30 mm HE 2.000 m 1.500 m
Tabela 2. Características do canhão 30 mm.
Fonte: o Autor
 

No Exército Francês, o Escadron de reconnaissance et d'intervention utiliza a Viatura Blindada de Reconhecimento e Combate Jaguar dotada de canhão de 40 mm, com o foco específico para o reconhecimento, de maneira distinta do que prevê a doutrina brasileira para a tropa de cavalaria mecanizada. Os franceses não têm previsão doutrinária de operar esses meios em operações ofensivas, como em um ataque coordenado.

Figura 10: Jaguar com canhão CTA 40 mm.
Fonte: https://www.nexter-group.fr/en/scorpion-program
 

A dotação de míssil integrado à viatura entrega-lhe maior capacidade de sobrevivência no campo de batalha de alta intensidade, propiciando o engajamento de alvos blindados. Contudo, esse emprego é feito de maneira judiciosa e pontual, especialmente em caráter de autodefesa.

De forma semelhante, a tropa especializada em reconhecimento do Exército Alemão, o Heeresaufklärungstruppe, dota suas frações com inúmeros sensores como Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (SARP), radares e optrônicos, mas com reduzidos atuadores cinéticos, como canhões de grande calibre.

Um grande exemplo desse conceito é a viatura blindada leve de reconhecimento (Spähpanzer) Fennek. O veículo é dotado de lunetas e câmeras de observação diurnas e noturnas/termais montadas em um mastro, que podem ser retiradas e operadas em modo desembarcado. Pode, ainda, receber um SARP tipo Aladin, aumentando as capacidades de inteligência, reconhecimento, vigilância e aquisição de alvos (IRVA).

Figura 11: Spähwagen Fennek do Exército Alemão
Fonte: https://www.bundeswehr.de
 

Dessa forma, a função precípua dessa tropa alemã é o reconhecimento, não havendo previsão de atuar como economia de meios ou ser empregada em operações ofensivas. Para cumprir suas missões, o Fennek é dotado de uma metralhadora remota que possibilita sua autodefesa. Contudo, esse baixo poder de fogo torna-se um limitador para seu emprego em operações ofensivas ou de segurança.

Como conclusão parcial, cabe salientar o artigo do Cap Cav Alex Gonzales Guedes, apresentado à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, que estudou a viabilidade de utilização da Viatura Blindada Guarani com o sistema de armas UT30BR como VBR, em missões de Rec:

“É temerário afirmar que a VB Guarani UT30BR é capaz de substituir o EE-9 Cascavel na plenitude das exigências atribuídas para a Cavalaria Mecanizada, principalmente, porque a redução de calibre reflete na diminuição do poder penetrativo frente a inimigos com maior blindagem. Nesse ínterim é possível afirmar que o canhão 30 mm é insuficiente como armamento principal”.

E por que, então, não utilizar mísseis?

O emprego de mísseis anticarro ganhou relevância internacional no recente conflito entre Rússia e Ucrânia. O massivo fornecimento de armas anticarro, especialmente mísseis como o Javelin americano e o NLAW inglês/sueco, permitiu aos ucranianos causar inúmeras baixas na tropa blindada russa. Então, por que não dotar a Cav Mec de mísseis como o Javelin e o NLAW, ou ainda o israelense Spike, em substituição aos canhões de grande calibre?

Os mísseis anticarro possuem algumas restrições que inviabilizam seu emprego em larga escala. A primeira é o custo elevado dos mísseis. A título de exemplo, o orçamento do Exército dos EUA para 2022 prevê a aquisição de 520 mísseis Javelin a um valor de US$ 264.000,00 cada. Já o estudo de Richard Ogorkiewicz, publicado em Technology of Tanks, afirma que um míssil de segunda geração (considerado antigo para os dias de hoje), custa até 20 vezes o valor de uma munição de energia cinética para carro de combate.

Outra restrição dos mísseis é a cadência de tiro. Ao se comparar munições cinéticas com os mísseis, pode-se concluir que um TOW demora cerca de 13 segundos para impactar um alvo a 2.500m. Em contrapartida, a munição cinética de um carro de combate abate o mesmo alvo em pouco mais de um segundo. Em linhas gerais, um carro consegue disparar seu canhão, corrigir o tiro e disparar novamente antes que o míssil tenha impactado seu alvo.

A logística especializada de armazenamento, transporte e manutenção dos mísseis restringe bastante seu manejo e emprego. Um míssil de 5ª geração como o Spike LR-2 exige manutenção e cuidados como explosivo e, ao mesmo tempo, como componente eletrônico. Exemplo dessa complexidade é o caso de queda do míssil fora de seu estojo de transporte. Caso a queda seja de altura maior de 3 metros, torna-se indisponível para emprego.

Quanto à capacidade de armazenamento, um carro de combate pode transportar grande quantidade de munições para o canhão, o que lhe proporciona flexibilidade e capacidade de manter-se operativo por longos períodos. Como exemplo, o Centauro II transporta 32 munições de 120 mm.

No caso dos mísseis, grande parte das viaturas que possuem lançadores integrados à plataforma utilizam apenas uma ou duas unidades em pronto emprego, com mais algumas poucas empaioladas no chassi ou torre do veículo (2+5 mísseis TOW no caso do M2 Bradley).

Destaca-se que o carregamento dos lançadores é atividade complexa e, via de regra, exige que a viatura ocupe uma posição protegida a fim de possibilitar o remuniciamento externo de mísseis.

Figura 12: Carregamento dos mísseis TOW no Bradley
Fonte: https://www.army.mil
 

Sob o viés doutrinário, os mísseis anticarro possuem claro caráter defensivo, sendo utilizado para fazer frente às ameaças que progridem contra a posição defendida pela tropa que os emprega. Em operações ofensivas, os mísseis portáteis encontram dificuldade em acompanhar a velocidade da manobra. Os carros que possuem mísseis integrados à plataforma os empregam como forma de autodefesa, como no caso histórico dos mísseis TOW disparados pelos Bradley americanos na Operação Easting 73, quando destruíram inúmeros blindados de origem soviética.

Ainda, os mísseis são, em sua imensa maioria, compostos por explosivos que se assemelham às munições HEAT (anticarro), caracterizando-se como munições de energia química de reduzida velocidade inicial. Por outro lado, as munições mais eficazes contra alvos blindados são munições de energia cinética, com velocidade inicial superior aos 1.400 m/s, chegando aos 1.790 m/s nos canhões 120 mm. Os atuais sistemas de proteção ativa demonstram-se cada vez mais presentes em plataformas blindadas, sendo eficazes contra munições de baixa velocidade, como é o caso de foguetes e mísseis anticarro. O mesmo não acontece contra munições de energia cinética que, devido à alta velocidade, não podem ser totalmente neutralizadas por esses sistemas.

A utilização dos mísseis contra plataformas blindadas é, inegavelmente, efetiva e atual. Contudo, no caso específico da Cav Mec, especialmente na ofensiva, teriam um emprego secundário e com viés de autodefesa. Dessa forma, entende-se que o emprego dos mísseis se dá de forma complementar aos canhões da cavalaria mecanizada, não os substituindo.

Conclusão

Os canhões das VBR são o armamento que permitem que a Cav Mec cumpra as suas missões de combate, especialmente os movimentos retrógrados, a segurança e a ofensiva.

Nesse contexto, os canhões de grande calibre apresentam-se como melhor solução para dotar as viaturas, especialmente quando comparados aos canhões médios e aos mísseis. Tal dotação faz-se fundamental para uma tropa de grande flexibilidade e modularidade, habilitando-a a realizar, inclusive, missões de ataque.

O Ten Cel Agnaldo Del Nero Augusto, em documentário intitulado “Evolução das Táticas e das Técnicas de Blindados” e publicado na Revista “A Defesa Nacional” nos anos 70 já afirmava:

“A falta de compreensão desta particularidade das unidades de reconhecimento [a Cav Mec] tem sido motivo de equívocos por pessoas que, por dever de profissão, não poderiam ser ignoradas. Acresce que essas unidades representariam um alto ônus se cumprissem exclusivamente missões de reconhecimento. Todavia, sua organização confere-lhes alta mobilidade, potência de fogo com proteção blindada, eis que boa parte do seu armamento está instalado nas próprias viaturas e o resultado da sua potência de fogo, mobilidade e blindagem confere-lhes boa capacidade de ação de choque. Ora, com essas características, estas unidades são especialmente rápidas a cumprir em todas as formas de segurança e todos os tipos de movimentos retrógrados. Além disso, tem possibilidade de cumprir, como elemento de economia de meios, as missões básicas de ataque e defesa.”

E conclui:

“A designação de meios para este tipo de unidade, tem, pois, que atentar para o conjunto de missões que cumpre ou pode cumprir, e isto é tão mais verdadeiro e importante quanto menos rico é o Exército a que pertence.”

Por fim, a Cavalaria Mecanizada, fruto de suas características, enquadra-se nas capacidades necessárias à guerra da Era do Conhecimento. Confia aos canhões das suas viaturas blindadas grande responsabilidade para o cumprimento das missões, seja como força de cobertura e proteção, seja como trunfo do Exército Brasileiro ao empregá-la como economia de meios.

 

AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!
 
 
 

Clodomiro Rodrigues Matozo Junior – Maj Cav
Seção de Doutrina do CI Bld
Daniel Bernardi Annes – Ten Cel
Comandante do CI Bld
registrado em:
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